Situado no Centro Histórico de Salvador, na Rua Chile, a primeira Rua do Brasil, o original Palace Hotel foi construído como o primeiro hotel de luxo do Nordeste em 1934 pelo Comendador Martins Catharino. Imponente prédio de oito andares, o Palace Hotel era uma referência de luxo e um ícone arquitetônico da cidade e símbolo do turismo em Salvador.
Desde o final dos anos 80, o hotel estava em declínio e fechou as suas portas, até a Fera Investimentos, que investe no Centro Histórico de Salvador desde 2011 com diversos projetos imobiliários, liderada pelos fundadores, Antonio Mazzafera e Marcelo Faria Lima, assumir a gestão do equipamento hoteleiro.
Com profissionais qualificados, a empresa se propôs a restaurar a tradição e sofisticação do hotel, como nos seus dias de ouro na década de 1930 e, neste ano de 2024, o edifício celebra seus 90 anos. Uma das características mais importantes do hotel é a sua fachada, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e composta por 230 adornos externos originais e 640 janelas de madeira maciça. O projeto de restauração contou com a assinatura do premiado arquiteto dinamarquês, Adam Kurdahl, que realçou as características marcantes do edifício. Todos os adornos e janelas foram restaurados minuciosamente, e o hotel renasceu como o Fera Palace Hotel em 2017.
De acordo com o IPHAN, “o processo de tombamento do bem aponta que o edifício se destaca, no contexto do sítio histórico tombado em que predomina o Art Déco, trazendo uma particularidade interessante: o concreto armado e uma estilização de motivos ornamentais são postos em conexão, resultando numa obra arquitetônica de difícil enquadramento nas definições conceituais de estilo”.
Além de preservar a história arquitetônica do edifício, foi igualmente importante garantir que o interior do hotel mesclasse o Art Déco com aspectos baianos. Logo na recepção, o hóspede se depara com o piso em mosaico preto e branco, imponentes lustres Art Déco, e impressionantes esculturas da artista plástica baiana Nádia Taquary. Suas peças lindamente elaboradas, feitas com uma mistura de madeira, búzios, palhas, miçangas, pastilhas de coco, ouro, prata, conta e figas, exaltam a religiosidade afro-baiana, parte essencial da identidade de Salvador. Sua obra “Nós”, que está exposta no lobby do hotel, remete a uma lembrança que a artista tem da sua mãe, quando se hospedaram no então Palace, há anos atrás.
“Para nós, garantir a preservação do edifício do Palace Hotel é extremamente gratificante. Colocamos de volta à cena cultural e empresarial da Bahia um equipamento que jamais poderia ficar abandonado. Nosso propósito é valorizar ainda mais a cultura baiana e mostrar excelência no que oferecemos, algo que sempre esteve entre os propósitos de cada projeto que pensamos para o hotel”, comenta o empresário Antonio Mazzafera.
Hotel de personalidades
Atrás do balcão de recepção em madeira, o armário de correspondência do hotel permanece como uma homenagem à história do hotel. O papel de parede tropical que acompanha essas peças vintage proporciona uma verdadeira sensação de lugar que reflete o tropicalismo da Bahia. O térreo é o coração da culinária e mixologia do hotel onde a mistura caprichosa de elementos Art Déco e cultura baiana continua. O balcão do lobby bar foi decorado com pastilhas estilo anos 30 e tampo em latão envelhecido e a adega de 4m de altura tem capacidade para mais de 1.000 rótulos variados. Também é servida uma ampla seleção das melhores cachaças artesanais do Brasil.
Pelo lobby do hotel, passaram personalidades como Carmem Miranda, Grande Otelo, Pablo Neruda e Orson Welles. Até o cassino no primeiro andar foi um dos cenários da obra Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado, uma das muitas riquezas literárias da Bahia.
Segundo o historiador Rafael Dantas, nos anos 30, a cidade de Salvador ansiava por um projeto modernizante e isso se fez presente com o surgimento de novos símbolos, como o Elevador Lacerda e o Palace Hotel. “A construção do Palace está inserida em um momento de mudança de economia da Bahia onde o cacau estava em ascensão, onde o centro histórico pulsava a sua efervescência cultural e econômica. Era também o momento em que a Rua Chile era o principal ponto da cidade de Salvador. O Palace se destacava porque era um prédio em Art Decó no meio de construções ecléticas e por ser o primeiro hotel mais sofisticado de Salvador”.
Os pavimentos e 81 quartos do hotel dispõem de designs distintos, com composições de móveis e cores diferenciados, criando assim, cada ambiente com espaço diferenciado. Os pisos originais de taco de madeira e mármore foram recuperados e os elementos como louças, metais e luminárias tem todo o charme e inspiração do estilo da época. Os quartos contam com uma paleta de cores claras pastéis, que remetem ao Art Déco, e que também realçam a luminosidade da Bahia e ganharam móveis com forte identidade baiana através do uso de materiais regionais como linho nas cortinas, sisal nos tapetes e algodão para o enxoval. Outros elementos que inserem o hotel na cultura estadual são as dezenas de fotos retratando a vida e a cultura baiana pelo fotógrafo baiano Akira Cravo no restaurante, corredores e apartamentos.
Novo rooftop
O espaço na cobertura do hotel oferece uma vista deslumbrante sobre a Baía de Todos os Santos. Em 2024, o disputado rooftop foi completamente repaginado em parceria com a Le Lis, com a marca de moda brasileira, trazendo outro elemento de brasilidade para a experiência do hóspede.
O Fera Lounge é o espaço perfeito para relaxar e desfrutar drinks e petiscos da Bahia durante o dia, ao lado da piscina com borda infinita de 25m de comprimento, revestida em cerâmica esmaltada produzida artesanalmente. À noite, os hóspedes podem desfrutar de um espetacular jantar ao pôr do sol no Restaurante Fera Rooftop, comandado pelos chefs Fabrício Lemos e Lisiane Arouca, do Grupo Origem. O menu é servido em etapas, inspirado na culinária de países mediterrâneos como Portugal, Espanha, Líbano, Grécia e França.
O Palace Hotel é um ícone da hotelaria de luxo no Nordeste há quase um século e espera dar continuidade a esse legado no futuro sobre a bandeira da Fera para as próximas gerações.