No showbiz, não há quem nunca tenha ouvido falar de Gilda Mattoso. A companheira de Vinícius de Moraes até sua morte (1980) é empresária, produtora e assessora de imprensa de inúmeros artistas. No entanto, são suas andanças com Gilberto Gil que inspiraram Diários da assessora de encrenca – Os bastidores das turnês com Gilberto Gil e outros artistas (Minotauro/Grupo Almedina, 2024).
O livro é recheado de histórias divertidas e curiosas. Há os percalços, como quando Gilda teve covid-19 em uma turnê na Europa e precisou se isolar. Ou o momento em que soube da morte do irmão enquanto acompanhava Gil na Itália. O lançamento de Diários da assessora de encrenca – Os bastidores das turnês com Gilberto Gil e outros artistas será dia 7 de maio, no Rio de Janeiro.
Em 2006, Gilda escreveu e lançou o livro “Assessora de Encrenca”, com prefácio de Caetano Veloso e texto de Pedro Almodóvar. Agora, o diário foi escrito com novas histórias e ela destaca a turnê Nós A Gente, que reuniu toda a família (incluindo netos!) para apresentações de Gil, sua banda e filhos por 13 países e 17 cidades da Europa, em 2022. A viagem foi parte das comemorações dos 80 anos do artista. O livro conta também os bastidores de outras importantes turnês: Dois Amigos, Um Século de Música – Caetano e Gil (Europa, 2015), Trinca de Ases – Gal Costa, Nando Reis e Gil (Europa, 2018) e OK OK OK – Gil (Europa, 2019).
Em Diários da assessora de encrenca – Os bastidores das turnês com Gilberto Gil e outros artistas, o prefácio é de Preta Gil, que se refere à profissional como “Gildinha” e uma peça importantíssima na vida da família. “Quantas turnês ela já tinha feito com meu pai? Acho que mais de vinte. Nas nossas viagens de ônibus, ela embalava a road trip com histórias hilárias, e entretinha as crianças ensinando palavrões. A tia Gilda é a melhor”, diz a cantora. Para Preta, Gilda tem sempre os melhores causos. “Ela certamente é a não Gil mais Gil de todas.”
Os bastidores das viagens são contados em forma de diário, em primeira pessoa. Alguns textos foram escritos durante os longos trajetos de ônibus ou nos voos, entre uma escala e outra. Gilda fala dos hotéis onde se hospedou, dá suas impressões sobre as cidades visitadas e registra a alegria que os shows provocam nas plateias no exterior. Também lista os amigos que encontra pelo caminho. Ao fim da publicação, o leitor é brindado com algumas fotos das turnês.
A parte gastronômica tem destaque. Em cada história, Gilda acaba contando suas experiências (boas ou trash, em suas palavras!) à mesa. Em 2015, durante a turnê Dois Amigos, Um Século de Música, a autora lembra que experimentou uma “iguaria incrível”: “ovo cozido dentro de um saco de papel celofane, acompanhado de creme de leite com parmesão e trufas brancas e negras. Um verdadeiro manjar, tanto que no dia seguinte comi de novo e recomendei para Caetano, que também amou!”.
Não faltam ‘encrencas’ no livro, claro. Equipamento e malas extraviados, instalações ruins para os shows e situações nada planejadas, como quando Gal Costa passou mal durante a apresentação com Gil e Nando Reis, em Lisboa (2018). “O show corria bem até uma hora depois, quando notamos que Gal estava se apoiando no biombo de acrílico que usamos para separar a bateria (…)”. No hospital, os médicos diagnosticaram um problema gastrointestinal. Medicada, teve alta horas depois. “Após o show, recebemos os convidados e voltamos para o hotel, onde cada um comeu em seu quarto, pois não havia clima para jantar”, lembra Gilda.
Outra ‘encrenca’ que deu trabalho foi dar queixa na delegacia depois que Flora Gil teve sua bolsa Channel furtada em um restaurante de Paris. “Chamamos o gerente, que não fez nem cara de espanto e nos aconselhou a ir dar parte na delegacia (…). Lá fomos nós e, para nosso espanto, havia um bom número de pessoas, quase todas estrangeiras, prestando a mesma queixa. O policial me disse: ‘Madame, passam por dia entre 60 mil e 100 mil pessoas pela Champs Elysées e somos cem policiais aqui. A cidade está repleta também de ladrões que se aproveitam dos turistas incautos!’”.
Gilda Mattoso começa o livro dizendo que se sente abençoada por ter tido o privilégio de conhecer os “maiores artistas de nossa música” graças ao seu trabalho. Na bagagem, não só a experiência de rodar o mundo com os principais cantores, mas também a possibilidade de ser dona das melhores histórias.