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Crítica – Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou a História

Dirigido pela atriz Eva Longoria, Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História é mais um na tendência recente de Hollywood produzir filmes sobre produtos, como aconteceu em Air Tetris. O longa, que está disponível na Disney+ e na Star+, conta a história de Richard Montañez (Jesse Rodriguez), faxineiro de uma fábrica da Frito-Lay, empresa que produz salgadinhos como o Doritos e o Cheetos, que criou na década de noventa o sabores apimentados da marca, impressionando o presidente da empresa, Roger Enrico (Tony Shalhoub), e mudando o negócio.

Assim como os outros filmes que citei no parágrafo anterior, essa produção é basicamente um ritual de confirmação do status quo capitalista e todas as noções sobre meritocracia e que basta trabalhar duro e acreditar nas próprias ideias que tudo dará certo. Não chega a ser uma romantização plena porque a condução de Longoria está atenta ao racismo e xenofobia que ainda dominam o mercado de trabalho estadunidense e aponta como Richard precisou lidar com isso durante toda a vida e dentro da empresa, ponderando que talvez ele não tivesse que começar tão de baixo se não fosse branco.


Por outro lado o material praticamente não reflete sobre o modo como o capitalismo se apropria da cultura e identidade de diferentes sob a guisa de promoção da diversidade, mas reduz essa identidade a uma performance de consumo. Ou seja, o ato de ser latino ou de valorizar essa comunidade e cultura é transformado por empresas como a Frito-Lay em meramente um gesto de consumo. A identidade de um povo se resume, dentro dessa exploração capitalista, ao ato de consumir coisas que me fazem informar às outras pessoas, através do consumo, que essa é minha identidade e valores.

A trama, porém, é competente em apresentar o contexto econômico da era Reagan, quando as medidas de desregulação e desinvestimento do Estado abriram caminho para uma série de problemas econômicos e início de um processo de desindustrialização do país (com empresas fechando fábricas para abrir em países cuja mão de obra era mais barata) que afetavam principalmente os trabalhadores. O material também acerta em não se levar à sério demais, sempre pendendo para comédia conforme constrói Richard como um narrador pouco confiável, disposto a florear a própria história para soar ainda mais inspiradora. Assim o filme exibe uma certa autoconsciência sobre os clichês desse tipo de história de superação e diverte ao brincar com eles.

A jornada de Richard segue as batidas previsíveis desse tipo de trama, mostrando como ele trabalhou duro, como teve sorte de encontrar pessoas que acreditaram nele, da importância do suporte da esposa e tudo mais. Funciona pela humildade e calor humano que Jesse Rodriguez traz ao protagonista, do mesmo modo que Tony Shalhoub traz uma medida de humildade sincera a Enrico, algo que é visível no momento em que ele dá um discreto suspiro de surpresa e satisfação ao ouvir Richard dizer que assistiu ao vídeo do patrão, como se Enrico tivesse aceitado que seus funcionários não dariam bola para o material.

Ainda assim, nem todos os arcos funcionam. A complicada relação de Richard com o pai é exibida de maneira superficial e quando a narrativa resolve reparar a relação entre eles a catarse que deveria acompanhar o momento não soa merecida porque o texto não construir devidamente o percurso dessa relação.

Flamin’ Hot: O Sabor que Mudou a História não tem nada de muito diferente de outras histórias de superação, mas ao menos é competente em apresentar o contexto econômico da década de oitenta e consegue conquistar pelo bom humor com o qual conta sua história.

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