O jornal global The Guardian publicou reportagem sobre uma significativa repatriação cultural em andamento, para devolver a Salvador uma coleção com 750 obras de artes produzidas por artistas brasileiros predominantemente negros. A coleção, que é composta por esculturas, pinturas, gravuras, objetos religiosos, trajes festivos, brinquedos e livretos de poesia, será incorporada ao Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab), localizado no Centro Histórico da capital baiana.
As obras de arte, criadas por artistas autodidatas, foram inicialmente adquiridas ou recebidas como doações pela historiadora de arte estadunidense Marion Jackson e pela artista conterrânea Barbara Cervenka durante viagens à Bahia a partir do início da década de 1990. As peças foram expostas em museus nos Estados Unidos e no Canadá por mais de 30 anos.
De acordo com a reportagem, a repatriação dessas obras está alinhada a um movimento global crescente para devolver o patrimônio cultural aos seus locais de origem. O retorno da coleção ao Brasil possui um significado simbólico profundo, já que a Bahia é o coração do patrimônio afro-brasileiro. Para o Guardian, o acervo reflete a riqueza e a diversidade da arte popular do Nordeste brasileiro, destacando-se as contribuições da Bahia, Pernambuco e Ceará, estados de origem dos artistas cujas obras compõem a coleção.
Jamile Coelho, diretora do Muncab, destacou em entrevista ao Guardian a importância de ressignificar a valorização dos artistas afro-diaspóricos. “A repatriação dessas peças faz parte de um movimento maior, mas com uma diferença fundamental: essas obras foram adquiridas legalmente e retornam ao Brasil em um gesto de respeito e reconhecimento de sua importância cultural”, explicou Coelho para a reportagem.
A expectativa do Muncab é que as obras, atualmente armazenadas em Detroit, nos Estados Unidos, sejam transferidas para Salvador dentro de um ano, onde serão expostas e posteriormente emprestadas para outras exposições em todo o Brasil. Este acervo, que inclui peças icônicas como a escultura de madeira “Oxalá”, de Celestino Gama da Silva, e a pintura “Procissão da Irmandade da Boa Morte”, de Lena da Bahia, representa um importante capítulo na história da arte popular brasileira e reafirma a missão do Muncab de preservar e promover a cultura afro-brasileira.