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Crítica – The Acolyte

A ideia de uma série de Star Wars que se passasse no período da chamada Alta República, séculos antes dos eventos das três trilogias, poderia ser uma chance de fazer algo com mais liberdade, sem um cânone tão amplo para limitar escolhas. The Acolyte até apresenta boas ideias, ampliando algumas noções apresentadas na trilogia prelúdio e na trilogia sequência sobre como a soberba dos jedi é parcialmente responsável pelo retorno dos Sith. O problema da série está na execução, com personagens inconsistentes, dramaturgia problemática e ritmo descompassado. Aviso que o texto contem SPOILERS.

A trama se passa cerca de cem anos antes de A Ameaça Fantasma (1999). Ela segue o mestre jedi Sol (Lee Jung-Jae) que investiga as mortes de outros jedi ao redor da galáxia. Os jedi mortos parecem ter relação com um incidente no qual Sol se envolveu anos atrás e com Osha (Amandla Stenberg), uma antiga padawan de Sol que deixou a ordem. Sol, porém, descobre que quem está por trás de tudo não Osha, mas Mae (Amandla Stenberg), irmã gêmea de Osha que todos acreditavam estar morta. Apresentando poderosas habilidades da Força, Sol logo desconfia que Mae possa ter sido treinada por alguém com domínio do lado sombrio e que algum propósito nefasto está em ação na galáxia.

Só os sith lidam em absolutos?

A narrativa mostra como a visão dogmática dos jedi a respeito da Força, tratando como suspeito ou usuário do lado sombrio qualquer um que não se encaixe em seus preceitos. Essa visão estreita revela uma faceta mais intolerante da ordem que durante muito tempo foi apresentada como heróis de pura bondade, mas ao longo das duas últimas trilogias, quando aprendemos mais sobre a queda deles, percebemos que a soberba e a complacência de seus membros foram centrais para a ascensão dos sith. Todo o conflito criado por Sol com a irmandade de bruxas em Brendok parte justamente da ideia de que elas, por terem um entendimento da Força diferente dos Jedi, são automaticamente perigosas ou malignas.

Do mesmo modo, a série pondera como o dogma dos jedi de controlar as emoções pode ser perigoso, algo que Luke (Mark Hamill) já tinha mencionado Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), e que aqui é ampliado na trama que envolve a mestra Vernestra (Rebecca Henderson) com o senador Rayencourt (David Harewood), que deseja mais supervisão sobre os jedi, considerando-os como uma seita sectária. Se boa parte desses personagens pudesse lidar com as próprias emoções, como o luto, o abandono e o arrependimento, bem como exercitar suas conexões com outras pessoas, muito do que ocorre poderia ser evitado (assim como com Anakin, diga-se de passagem). Então por mais que a série questione a visão absoluta dos jedi como heróis, não deixa de estar calcada em elementos consolidados deste universo. O que a série faz é tentar dar mais complexidade moral, lembrando que mesmo boas intenções podem pavimentar o caminho para péssimas escolhas (novamente, como aconteceu com Anakin). 

Vergência, divergência, inconsistência

O problema é como a série desenvolve isso ao longo de sua trama. É curioso como os episódios soam curtos demais para dar conta do tanto de coisa que a narrativa quer abarcar e, ao mesmo tempo, a trama soe muito arrastada, com alguns episódios fazendo bem pouco para avançar as coisas. A série apresenta uma série de mistérios, mas se nega a responder qualquer um deles. Mesmo quando algumas respostas vêm, elas são tão vagas e parciais que não soam satisfatória nem nos mantem interessados em saber mais.

Em outro paradoxo, apesar dessa grande quantidade de mistérios a série consegue ser bem óbvia em suas reviravoltas. É evidente que Qimir (Manny Jacinto, o Jason de The Good Place) era o mestre misterioso de Mae. Era evidente desde o momento em que Aniseya (Jodie Turner-Smith) menciona que as gêmeas não nasceram naturalmente que podemos deduzir que elas são uma pessoa só dividida em duas. É óbvio pela alternância da montagem que mostra a imagem da cicatriz nas costas de Qimir e corta para Vernestra usando seu chicote durante uma investigação em Brandok que as duas coisas estão relacionadas, com a revelação de que ele era seu padawan não sendo nenhuma surpresa. É bem evidente desde o episódio que mostra o primeiro flashback de Mae que ela não foi a responsável pela morte da irmandade das bruxas. Assim que Vernestra toma a frente da investigação e pede que fiquem de olho em Sol é bem óbvio que ela usará Sol como bode expiatório para todas as mortes de jedi para enterrar os erros passados dos colegas.

A questão não é apenas o fato de podermos prever, uma revelação previsível pode ainda impactar se bem construída, recompensando o espectador pela atenção. Aqui isso não acontece. A decisão de Vernestra em incriminar Sol, por exemplo, é apresentada como uma escolha amarga, que pesa na jedi por destruir o legado de um amigo, mas ela nunca tem o devido peso porque mal conhecemos essa personagem ou a relação dela com Sol, então nunca sentimos o devido impacto dela destruir a memória de um amigo querido sob a justificativa de proteger a Ordem Jedi. Boa parte das decisões de Mae e Osha ao longo da temporada também não soam devidamente construídas, com ambas mudando os rumos sem justificativa devida, como que obrigadas pela trama. 

Algumas cenas não funcionam como deveriam pela maneira como elas são encenadas. A morte de Aniseya deveria ser um momento trágico fruto de uma escolha intempestiva de Sol, que nunca pôs em questão a própria superioridade moral, mas da maneira como é construída as ação do jedi em atacar assim que ela fez menção de usar os poderes soa justificada. Afinal, da última vez em que ele a viu manifestar seus poderes foi para controlar Torbin (Dean-Charles Chapman, o Tommen de Game of Thrones), então porque ele não tomaria o gesto dela como um ataque mais uma vez? Se ela tivesse dito que iria ajudar Osha contra o incêndio e Sol a atacasse mesmo assim transmitiria melhor como o jedi estava cego por suas próprias certezas de que a bruxa agia com malícia. Do mesmo modo a morte do resto da irmandade, que simplesmente cai morta quando Indara (Carrie-Anne Moss) quebra o controle delas sobre Kelnacca carece de impacto devido. 

Não ajuda a performance rígida de Lee Jae-Jung como Sol. Talvez seja uma questão de pouca familiaridade com a língua inglesa limitando sua capacidade de se expressar nela, mas Sol soa apático durante boa parte do tempo. Ele deveria ser um sujeito estoico e resoluto, inflexível em suas convicções de tal modo que não perceberia a própria culpa, e não inexpressivo. A descoberta de que foi tudo culpa de Sol perde a força quando não conseguimos sentir nada por ele. 

É frustrante que a série termine sem resolver praticamente nada de suas principais tramas com exceção do arco de Sol, empurrando com a barriga várias questões para uma segunda temporada que provavelmente não vai acontecer considerando a recepção negativa que a série teve. Afinal, quais são as implicações das gêmeas serem uma só pessoa dividas pela Força, porque os personagens consideram isso tão importante? O que aconteceu com Koril (Margarita Levieva), a outra sobrevivente dos eventos em Brandok? Qual era afinal o plano de Qimir e porque ele deseja tanto ter um aprendiz para cultivar o “poder de dois”? O que diabos isso quer dizer? Era Darth Plagueis a figura observando Qimir de dentro de uma caverna?

Estilo, paisagem sonora e ação

The Acolyte marca também a quebra de algumas convenções estilísticas presentes desde o início da franquia. É, por exemplo, a primeira vez que um produto de Star Wars usa letreiros para identificar onde estamos quando a montagem corta para algum plano geral de uma nova localidade. O único local que não é nomeado é o planeta habitado por Qimir, que parece bastante semelhante a Ahch-To, planeta no qual Luke se exila na última trilogia. De início essa mudança causa estranhamento, mas é uma alteração inofensiva no regime estilístico.

No plano sonoro, porém, há uma mudança mais significativa. Star Wars sempre teve uma paisagem musical marcada por composições orquestrais, com ocasionais usos de coros, como em Duel of Fates de A Ameaça Fantasma (1999). The Acolyte marca a primeira vez que a franquia usa uma canção propriamente dita na forma de Power of Two, cantada por Victoria Monét que nos créditos do sétimo episódio. Soando como uma balada pop, a canção não parece pertencer ao mesmo universo do resto do programa musical da franquia e da série, destoando do clima de ópera espacial que Star Wars estabeleceu para si. É uma tentativa de experimentação que não funciona. 

O que funciona, por outro lado, é como a série conduz suas cenas de ação. O embate com Qimir no quinto episódio talvez seja o ponto alto da série, com o vilão dilacerando com facilidade inúmeros jedi, mostrando todo seu poder e brutalidade. A luta também traz algumas novidades em termos de coreografia de ação para Star Wars e algumas servem para a caracterização dos personagens como o fato de Qimir desligar e ligar a lâmina do sabre de luz para fintar o oponente, uma técnica mal vista por jedi (que consideram desleal) e por sith (que consideram covarde), informando que Qimir não se encaixa nessas categorias. É igualmente a primeira vez que o material cortosis é usado em uma produção canônica. Minério capaz de interromper os feixes dos sabres de luz, ele já tinha aparecido em produções não canônicas e aqui, presente no capacete e partes da armadura de Qimir, faz sua estreia inserindo mais nuances aos combates. 

A luta de Kelnacca contra Sol e Torbin serve para ilustrar o quão poderosa é a combinação da força natural de um wookie com as habilidades de um jedi, com Kelnacca dominando facilmente os dois outros combatentes. O duelo entre Sol e Qimir no episódio final tem momentos empolgantes, como o instante em que Sol usa a Força para defletir os dois sabres arremessados pelo oponente, ilustrando o controle que Sol tem do combate e como Qimir o subestimou. A luta entre Mae e Osha é interessante por consistir de uma mesma atriz fazendo os dois lados do combate, sendo auxiliada por dublês e computação gráfica para tornar tudo crível. É mais convincente do que a luta de Jet Li contra ele mesmo em O Confronto (2001). 

Embora ofereça boas cenas de ação e parta de ideias interessantes, The Acolyte desperdiça seu potencial em uma execução problemática que peca tanto na construção dos personagens quanto no desenvolvimento da trama.

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