Connect with us

Olá, o que você está procurando?

Streaming

Crítica – O Rito da Dança

Estrelado por Lily Gladstone (de Assassinos da Lua das Flores) e produzido pela AppleTV+, O Rito da Dança fala sobre a dificuldade das comunidades nativas dos Estados Unidos em manter contato com suas raízes e suas comunidades unidas diante de um descaso generalizado por parte do Estado. É também sobre conexões familiares, tentando construir um senso de intimidade com suas duas protagonistas.

Jax (Lily Gladstone) tenta procurar por sua irmã desaparecida já que a polícia tribal de sua reserva, composta apenas por uma pessoa, nada podem fazer e as autoridades externas não dão a mínima aos seus pedidos. Ela também cuida da sobrinha Roki (Isabel Deroy-Olson), filha da irmã desaparecida. Para manter a garota ocupada, Jax promete levá-la ao Powwow, um evento que reúne diferentes nações nativas do estado.

A diretora Erica Tremblay constrói um senso de intimidade com as personagens, constantemente filmando com planos fechados, nos mantendo próximos a elas. Esse senso de proximidade é reforçado pelas escolhas naturalistas de registro de imagem e som, dando a impressão de que estamos acompanhando a vida cotidiana dessas pessoas se desenrolar. A proximidade das personagens ajuda a entender a conexão que Jax e Roki têm uma com a outra e também com o lugar em que vivem, como se o mundo inteiro de uma fossa a outra.

Nesse contexto, agentes do Estado são mais um obstáculo e uma ameaça do que alguém com quem as Jax pode contar para resolver seus problemas. Isso fica evidente não apenas pelo descaso que as autoridades tem com o sumiço de sua irmã, como também pelo modo como Jax perde a guarda de Roki, levada para a tutela dos avôs brancos. Posteriormente a interação de Jax e Roki com um policial da imigração serve para reforçar como o Estado vê pessoas como ela como cidadãs de segunda classe e um problema em potencial.

Os avôs, Frank (Shea Wingham) e Nancy (Audrey Wasilewski), são bem intencionados e se importam com o bem estar de Roki ao seu próprio modo. O problema é que a visão deles de cuidar bem da garota envolve afastá-la de tudo que ela conhece, de suas raízes e tentar impor um modo de vida sem entender as demandas da garota ou sua conexão com a terra natal e cultura. Isso é evidenciado na cena em que a avó tenta dar a ela sapatilhas de balé de presente, não entendendo que o interesse da garota em ir para o Powwow não é simplesmente por um interesse em dançar e sim pelo que o rito representa para Roki em sua conexão com a mãe e com sua ancestralidade.

Ao final a avó entende que seu gesto foi inapropriado, embora bem intencionado, e propõe ouvir mais a garota e ajudá-la naquilo que ela se interessa. A cena serve para mostrar que os avós não estão tentando impor uma assimilação cultural a Roki, embora a falta de entendimento que eles demonstram pela cultura da neta os faça impedi-la de ir para o Powwow, impelindo a fuga de Roki ao lado da tia. A severidade da conduta dos avós revela como esses eventos e ritos são vistos como meras festividades e não como parte fundamental da identidade daquelas mulheres e da conexão que elas têm com sua espiritualidade, principalmente no contexto em que Jax e Roki se encontram de que tudo mais foi tirado delas. Lily Gladstone carrega no olhar esse senso de desamparo e desesperança de Jax. Alguém cansada e endurecida por uma vida de perdas e de dificuldades que tem na sobrinha a única motivação para continuar seguindo adiante.

Quando a trama finalmente coloca Jax e Roki para participarem da dança, o filme nos faz sentir a dimensão sublime do que aquele evento representa para elas, não apenas reconectando as duas personagens depois de uma crise, mas também a um senso de comunidade e de ancestralidade, mantendo vivo o legado e a memória da mãe de Roki e de todas as outras que morreram cedo demais. A dança é retratada como um momento de catarse coletiva e celebração da vida diante da morte.

Apesar da força expressiva das últimas cenas, o filme não consegue afastar a impressão de que se atrapalha um pouco no clímax, principalmente a partir da cena do tiro no posto de gasolina. A partir daí se apoia em muitas conveniências para amarrar as várias pontas da trama e o final soa ingênuo diante da falta de consequência para algumas ações que as personagens tomam, principalmente quando tudo que veio antes fazia questão o tempo todo de ressaltar como os agentes do Estado não pegam leve com pessoas como Jax ou Roki. Entendo que a ideia era encerrar com essas personagens celebrando suas culturas, identidades e a relação uma com a outra, mas depois de tudo que vimos é difícil crer que de fato haverá um final feliz e que as duas não seriam presas e separadas depois de tudo que aconteceu.

Apesar dos tropeços em seu terço final O Rito da Dança não deixa de ser um estudo comovente sobre laços familiares e comunitários.

Leia mais

Música

Turnê celebra os 50 anos de carreira do artista

Música

No dia 1º de fevereiro, às 15h, Saulo Fernandes comanda mais uma edição do projeto Saulo Som Sol, que vai acontecer pela primeira vez...

Música

Será a primeira vez da banda na Bahia

Viagem

A LATAM Airlines Brasil está no centro de uma nova controvérsia após implementar uma política que restringe o acesso ao banheiro frontal de suas...

Música

A Concha Acústica viveu uma noite inesquecível neste domingo (23). Com ingressos esgotados, Os Paralamas do Sucesso levaram à capital baiana o espetáculo “Paralamas...

Música

O cantor e compositor Alexandre Peixe promete deixar os festejos de Natal ainda mais especiais em Salvador. O artista vai comandar, um ano, a...

Gastronomia

O Santo Antônio Além do Carmo recebe, na sexta-feira, 28 de novembro, das 17h às 23h, a 3ª edição do D.A.Y. Sessions, projeto que une Decanter, Allê...

Música

Por questões de última hora que fogem ao controle das produtoras envolvidas, o show da orquestra cubana Buena Vista que aconteceria no próximo domingo, 30, em...