Além das paisagens naturais que despertam a atenção de visitantes de todas as partes do mundo, o Parque Nacional da Chapada Diamantina e o Parque Estadual da Serra do Conduru (no Sul da Bahia) são destinos para quem deseja praticar turismo ecológico e conhecer mais sobre a biodiversidade local. Com patrocínio da Fundação Grupo Boticário, um grupo de especialistas em fungos lança um guia de quatro micotrilhas para observação de cogumelos nos dois locais.
“Mico” é um prefixo usado para indicar algo relacionado a fungos e cogumelos. O projeto Micotrilha da Bahia propõe uma nova modalidade de turismo de natureza no estado. Nele, os micoturistas poderão participar de atividades como a busca, a identificação e a fotografia de cogumelos, além de aprender sobre o papel ecológico desses organismos.
O micoturismo promove uma apreciação consciente e sustentável dos cogumelos, sem prejudicar as belezas naturais dos ecossistemas. Justamente com o objetivo de aliar o turismo ecológico e conservação da biodiversidade fúngica, o projeto Micotrilhas da Bahia teve início em 2022, e a partir dele foi realizada a coleta, organização, catalogação e registro fotográfico de 183 macrofungos encontrados na Serra do Conduru e 83 macrofungos encontrados na Chapada Diamantina, totalizando 266 nos dois parques baianos.
As trilhas que permitem a observação dos cogumelos estão em áreas já conhecidas por turistas e moradores das regiões: duas delas estão no Vale do Capão, município de Palmeiras, na área do Parque Nacional da Chapada Diamantina, e duas no Parque Estadual da Serra do Conduru (PESC), no distrito de Serra Grande, município de Uruçuca.
“Os resultados deste projeto enriquecem a compreensão sobre a biodiversidade de cogumelos da Bahia, e fornecem subsídios para a conservação e fortalecimento dos Parques Nacional da Chapada Diamantina e Estadual da Serra do Conduru. Através dos roteiros micológicos guiados, tanto turistas, entusiastas ou pesquisadores têm a oportunidade de conhecer os cogumelos presentes na Bahia e compreender a importância da Funga (um termo proposto em 2018 para o reino dos fungos). Entendemos que a observação de cogumelos pode ser um atrativo extra com potencial para expansão de conhecimentos importantes para a humanidade”, destaca Alexandre Lenz, pesquisador e coordenador técnico do projeto.
Os fungos desempenham um papel fundamental na regulação do clima e na mitigação das mudanças climáticas, seja através do sequestro de carbono, da reciclagem de nutrientes, da produção de biocombustíveis, da biorremediação ou da conservação de ecossistemas. “Incorporar estratégias que promovam a saúde e a diversidade dos fungos nos ecossistemas é essencial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas”, afirma a também pesquisadora e coordenadora da iniciativa, Ana Paula Uetanabaro.
O Micotrilhas da Bahia é patrocinado pela Fundação Grupo Boticário é realizado pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), através do Laboratório de Microbiologia Aplicada da Agroindústria (LABMA), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), através do Grupo de Pesquisa em Bioinformática e Biologia Computacional (G2BC), coordenado pelos pesquisadores Ana Paula Uetanabaro e Alexandre Lenz, e gerido pela empresa Tistu Ambiental.
Mais informações podem ser obtidas no perfil do Instagram @micotrilhas.bahia, no Inaturalist ou no Guia disponibilizado pelo projeto, que pode ser baixado em www.shorturl.at/aLNTU.
Parque Nacional da Chapada Diamantina
A Micotrilha Ganoderma é nomeada em homenagem a um exemplar chamado Ganoderma lobatum, cogumelo orelha de pau que possui mais de 50 cm de comprimento. Ela está localizada na Pousada do Capão, e possui 2,2 km com uma grande diversidade de cogumelos coloridos, incluindo espécies comestíveis como o ostra rosa (Pleurotus djamor), o frango da floresta (Laetiporus sp.) e o Irpex rosettiformis.
Com vistas incríveis para a Cachoeira do Batista (em períodos chuvosos) e para o Morro Branco (que fica ainda mais especial no por do sol), a micotrilha Ganoderma é acessível para todos os visitantes. Os valores são de R$ 160 para até quatro pessoas ou R$ 40 (cada um) para grupos a partir de cinco pessoas.
Já a Micotrilha Mycena — em homenagem ao Mycena margarita, espécie que é bioluminescente — fica na Cachoeira Purificação e se encontra ao pé das montanhas, entre o Morro Branco e a Serra do Candombá, no final do Vale do Capão e começo do Vale do Pati. É uma trilha de 4,6 km com classificação média, de esforço significativo – já que conta com travessia de rio, rochas soltas, raízes expostas e subidas íngremes. A declividade varia bastante e muitas vezes passa por encostas que podem ser inacessíveis em épocas de chuva.
Muitos cogumelos com cores chamativas são encontrados na micotrilha Mycena, incluindo tons de roxo, lilás e amarelo. O ponto alto é a própria Cachoeira da Purificação, onde se recomenda uma parada para banho, alimentação e hidratação. No retorno, há também a recomendação de parada para banho na Cachoeira Angélica, escondida em um cânion. Os valores são de R$ 260 para até quatro pessoas ou R$ 65 (cada um) para grupos de mais de seis pessoas.
Os trajetos na Chapada Diamantina contam com o apoio dos condutores da Associação de Condutores de Visitantes do Vale do Capão para facilitar o percurso e auxiliar os visitantes diante de quaisquer dificuldades. O agendamento pode ser feito no telefone (75) 3344-1087 ou no e-mail contato@acvvc.org.
Parque Estadual da Serra do Conduru
As micotrilhas do Parque Estadual da Serra do Conduru tem sua sede e áreas de visitação localizadas a 13 km do centro de Serra Grande, distrito de Uruçuca, no sul da Bahia, entre os municípios de Itacaré e Ilhéus, e requerem o acompanhamento de um guia da Associação de Condutores e Guias de Serra Grande. O agendamento pode ser feito por meio do telefone (73) 99981-1560. Nas duas opções, grupo de até quatro pessoas custa R$ 240. Cinco pessoas ou mais sai por R$ 70 (cada um).
A Micotrilha Cordyceps é uma trilha circular, pouco severa, de 1,1 km localizada próximo à sede do parque, e requer atenção às raízes das árvores expostas e a alguns pontos de bifurcação na mata ainda não sinalizados. Apresenta trechos com leve aclive e declive e o esforço é moderado, tendo em vista a duração estimada de 3 horas para a observação dos cogumelos. Há grandes chances de encontrar gêneros de cogumelos diversos, inclusive cogumelos bioluminescentes, em uma caminhada noturna.
Esta trilha foi nomeada com o nome popular referente ao gênero Ophiocordyceps, fungo que parasita diversos grupos de insetos, tornando-os “zumbis” e, ao final do seu ciclo, um macrofungo cresce a partir da cabeça deles. Insetos, como grilos, formigas e besouros infectados por fungos desse gênero, podem ser encontrados durante o passeio.
Fungos desse gênero ficaram famosos recentemente na Série “The Last of Us” da HBO. A micotrilha Cordyceps apresenta uma rica biodiversidade de flora e funga, destacando também as inúmeras espécies do gênero Marasmius, que deixam as folhas da serrapilheira coloridas.
A Micotrilha Amanita recebeu o nome do gênero de uma espécie de cogumelo chamada Amanita dulciodora que, em todo o mundo, foi registrada unicamente na trilha do PESC. Ela tem um trajeto de 1,4 km, com tempo estimado de percurso para a observação de cogumelos de 3 horas.
A trilha apresenta alguns trechos com aclive e declive, com intensidade de esforço moderado, que é agravado pelas condições do terreno. O trajeto tem diversas passarelas sobre pequenos cursos d’água e áreas brejosas e deve ser atravessada com atenção se estiverem escorregadias.
A espécie Amanita dulciodora, possivelmente endêmica da região, ocorre nos períodos de verão e já foi observada entre outubro e fevereiro. Ela tem coloração branca e salmão, sendo fácil de ser identificada quando avistada. É do mesmo gênero de um cogumelo famoso mundialmente, o Amanita muscaria, conhecido pela coloração vermelha e pintinhas brancas. Nesta micotrilha também é possível encontrar insetos “zumbis”, cogumelos corais e uma grande diversidade de cogumelos coloridos.