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Cultura

Crítica – Meu Amigo Bussunda

Eu lembro bem do impacto que foi saber do falecimento do humorista Bussunda em 2006. Ele estava na Alemanha com outros membros da trupe do Casseta & Planeta cobrindo a Copa do Mundo e morreu por conta de um infarto. Foi um choque, o grupo estava no auge e Bussunda era o principal rosto da equipe de comediantes. A impressão é que depois da morte do humorista o grupo e a comédia que eles produziam nunca mais foi o mesmo. Dirigida por Claudio Manoel, parceiro de Bussunda no Casseta & Planeta, série documental da Globoplay Meu Amigo Bussunda é uma afetuosa homenagem ao humorista ao mesmo tempo em que reconta a trajetória dele.

Dividida em quatro episódios, a minissérie vai desde a juventude de Claudio Besserman, nome real de Bussunda, até os últimos momentos dele na Alemanha. Estruturalmente não sai muito do traçado dos documentários biográficos brasileiros com entrevistas e imagens de arquivo, mas exibe uma pesquisa ampla tanto na quantidade de entrevistados quando no acervo de arquivo que usa para ilustrar a vida do biografado. Também recorre a uma narração irreverente e breves momentos animados ou com bricolagens de imagens como fez Mussum: Um Filme do Cacildis (2018).


O fato do diretor que conduz as entrevistas ser alguém intimamente ligado ao biografado dá um tom mais pessoal e despojado às conversas, afinal se tratam de conhecidos conversando sobre um amigo em comum. Talvez nas mãos de alguém mais distante de Bussunda não tivéssemos as informações que o filme nos dá sobre a vida pessoal dele, sobre como ele era com os amigos, irmãos e pais. Aprendemos não só sobre os eventos da vida dele, na infância criado por pais ativistas de esquerda, a juventude anarquista na faculdade, a criação do jornal Casseta Popular e o sucesso no humor televisivo.

Mais que isso, aprendemos sobre como Bussunda se tornou esse sujeito, o que o movia, o que interessava a ele no humor, na política, na vida. É um retrato amplo e cheio de afeto sobre a vida dele e o modo como ele encarava a vida, que se beneficia da duração do formato seriado. O episódio final apresenta até uma mudança de perspectiva ao delegar a direção e o olhar de Claudio Manoel para Julia Besserman, filha de Bussunda.

Se até então tínhamos a perspectiva de Manoel do amigo de juventude e colega de trabalho que Bussunda era, no episódio final temos o olhar da filha dele, de como ele era como pai e do que a filha sente como legado do humorista. Como não pode falar mais com o pai, Julia recorre aos amigos dele e outros humoristas para entender o interesse do pai pelo humor e também por em questão alguns tipos de piadas que Bussunda fazia e que hoje, para a sensibilidade da jovem adulta que ela é, podem soar como preconceituosas.

Esse segmento tenta promover uma discussão sobre humor e o contexto em que essas piadas são produzidas, na possibilidade do humor mudar conforme a sociedade muda e como a noção de “engraçado” varia de acordo com as transformações culturais. Claro, nem todos os humoristas fornecem ideias que contribuem com o debate, com alguns recorrendo a uma postura defensiva cheia de argumentos falaciosos de que humoristas são vítimas e que ninguém tenta impor limites na música, na poesia ou na ficção (o que é completamente falso). Ainda assim é importante que o documentário tenha essa autocrítica em relação ao tipo de humor que Bussunda e a trupe do Casseta & Planeta faziam, evitando um tom meramente laudatório ao relato biográfico construído aqui.

Com um olhar afetuoso e próximo ao biografado, Meu Amigo Bussunda é uma cálida homenagem ao falecido humorista e uma digna celebração de seu legado.

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