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Saúde

Psicóloga destaca “repertórios essenciais” para crianças autistas

Segundo a “Folha Informativa” da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) — subsidiária da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas —, uma em cada 160 crianças possuí Transtorno do Espectro Autista (TEA). Apresentando dificuldades para interagir e se comunicar com o mundo exterior desde cedo, os sintomas do TEA se originam na infância, perdurando pela adolescência e fase adulta, conforme descrição da OPAS.

Mesmo diante dos obstáculos encontrados, o número de alunos com TEA matriculados no Brasil aumentou 37% em meados da última década, segundo levantamento do “Censo Escolar”, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A chegada da pandemia do coronavírus (COVID-19), no entanto, deixou pais e responsáveis apreensivos com a diminuição das atividades interativas, antes asseguradas pelas salas de aula.

“Com a quarentena, muitas crianças foram privadas de se relacionarem com pares e outras pessoas, o que seria importante para incentivar suas habilidades sociais. As crianças, sobretudo as com TEA, tem uma janela preciosa de neuroplasticidade e é preciso aproveitá-la tanto quanto possível, pois uma vez que este tempo passe (quando há podal neural), a facilidade de aprender habilidades novas é consideravelmente reduzida. Então, em casa mesmo, é preciso estimular o máximo possível para compensar as chances de aprendizado que a criança estaria tendo nas escolas, parques e demais locais que frequentam”, explica a psicóloga Ticiana Accioly Filgueiras, 34.

Diretora Clínica do “Instituto Viver — Habilidades para Vida” (Stiep BA), a profissional ressalta que o desenvolvimento de “repertórios essenciais” no TEA é fundamental para as crianças aperfeiçoarem habilidades pessoais e conseguirem viver com qualidade e independência. Segundo Ticiana, as crianças se encontram no pico da “neuroplasticidade” — capacidade cerebral para se adaptar a mudanças — , tornando habilidades como “comunicação”, “vida diária”, “contato visual”, “imitações” e “instruções”, denominadas “repertórios”, indispensáveis para absorverem as oportunidades de aprendizado do dia a dia.

“Repertório é um conjunto de habilidades. Nós, seres humanos, ao longo do crescimento precisamos desenvolver diversos repertórios partindo das habilidades mais básicas às mais complexas, incluindo as que compõem a linguagem, para nos adaptar e participar da sociedade que fazemos parte. O transtorno do espectro do autismo (TEA) engloba diversas lacunas em repertórios da linguagem e essa dificuldade reflete muitas vezes na inabilidade em se comunicar de forma produtiva”, elucida.

Na ausência dos “repertórios essenciais”, a psicóloga explica que as crianças autistas tendem a diminuir significativamente a interação social, desacompanhando o comando de pais ou professores quando estão ensinando algo novo, ou sem conseguir reproduzir atividades presentes no ambiente. Para Ticiana, o não desenvolvimento dos repertórios, como a “comunicação” e a “vida diária” (banho, alimentação, vestimentas), que dão independência e dignidade ao indivíduo, podem levar a uma vida de dependência e até internação em hospitais psiquiátricos.

“No caso do TEA, há lacunas em diversos repertórios e isto significa que a criança sozinha tem maior dificuldade em se desenvolver de forma funcional. Em longo prazo, há alta probabilidade de ser dependente das pessoas, aprender formas inadequadas de se comportar, de se isolar, de ter perdas sociais, e chegar a ser excluído da sociedade. Na falta de formas adequadas de como se comportar, o indivíduo vai fazer o que funcionar, podendo esta forma ser estranha, improdutiva ou até agressiva”, relata.

Segundo a psicóloga e pós-graduada em “Terapia Analítico Comportamental”, as habilidades aprendidas pelos indivíduos estão incluídas em pelo menos um “repertório”, como expressar desejos e sentimentos, descrever objetos, relacionar itens, interagir, imitar ou seguir instruções. Diante da paralisação das atividades escolares e a diminuição dos repertórios essenciais em outros ambientes, Ticiana afirma que o dia a dia dentro de casa também oferece oportunidades de ensino para crianças autistas.

“Estimule a criança a se vestir sozinha, comer utilizando talher, servir a própria comida no prato, despejar o suco em seu copo, tomar banho e se enxugar, escovar os dentes. A lista é imensa e em cada atividade já é trabalhado motricidade, bilateralidade, texturas, força, coordenação e independência. Os pais podem brincar com seus filhos de atividades socioemocionais, visando aumentar a interação social. É importante também fazer pausas, prestando atenção em qualquer ato comunicativo da criança, pedindo por ‘mais’ para que os pais possam ensinar a falar ‘mais’ e continuar brincando”, destaca.

De acordo com a profissional, existe um limite entre tolerância e estimulação. Para Ticiana, é necessário que os pais avaliem se a habilidade exigida está além — ou aquém — do repertório infantil, levando em consideração o cansaço e a motivação da criança.

Auxiliando famílias a terem um material diário de estimulação para seus filhos, a psicóloga destaca a “Caixa de Brincadeiras” feita pelo Instituto Viver. Conforme explicado pela profissional, as crianças estão saciadas dos brinquedos disponíveis em casa, além da sobrecarga presente em pais pelo home office e outras tarefas do dia. Para desenvolver “repertórios” diversos, Ticiana ressalta que a “Caixa de Brincadeiras” tem aumentado significativamente a interação entre pais e filhos.

“A caixa propõe 5 brincadeiras a cada semana, com um guia que as descreve e lista as habilidades trabalhadas em cada uma delas. Na caixa há todo o material necessário para executar cada atividade. Elas foram pensadas para serem construídas desde o começo, no intuito das famílias brincarem juntas. Os pais podem dar ajuda necessária para cada etapa da construção e ainda estimular seu filho de diversas formas, como por exemplo nomeando itens, cores, formas, motricidade, contagem, faz de conta e sensorial”, conclui.

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