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Crítica – Luta de Classes

Quando o diretor Spike Lee anunciou que seu próximo projeto, este Luta de Classes, seria um remake de Céu e Inferno (1963), de Akira Kurosowa, fiquei temeroso. A última vez que Lee fez uma nova versão de um filme asiático o resultado foi um dos piores (talvez o pior) filmes de sua carreira no péssimo Oldboy: Dias de Vingança (2013), remake do sul-coreano Oldboy (2003). Felizmente Luta de Classes é, ao menos, um suspense competente, embora se perca um pouco no que quer dizer.

Dias de luta

A narrativa é protagonizada por David King (Denzel Washington), um magnata da música que está tentando tomar o pleno controle de sua gravadora para impedi-la de ser vendida para um grande conglomerado. As coisas se complicam quando o filho de seu motorista é sequestrado por engano, com os sequestradores acreditando que levaram o filho do próprio King. Agora ele é colocado em uma encruzilhada moral entre usar o dinheiro para salvar seu império ou para pagar o resgate do filho do amigo, Paul (Jeffrey Wright).


O início é eficiente em mostrar como King é um empresário pragmático e implacável, mas que tem uma lealdade genuína em relação a Paul e aqueles ao seu redor. Assim, é possível sentir como a situação pende sob a consciência do protagonista, obrigando-o a escolher entre seus negócios ou a lealdade de seu amigo. Muito da tensão vem da performance de Denzel Washington, que traz uma presença imponente a King, um sujeito acostumado a sempre estar no controle e sempre conseguir o que quer e agora está em uma situação que não tem como prever o resultado e com tudo que tem em risco.

Washington transita com naturalidade entre a dureza e a ternura do empresário. Algo visível na conversa que tem com o filho, Trey (Aubrey Joseph), na qual tenta consolar o garoto, que se culpa pelo sequestro, mas logo sobe o tom de voz e se torna agressivo com o filho quando ele questiona sua autoridade.

A maneira como o sequestrador fala com King indica que há um componente pessoal no sequestro e que a soberba do empresário teve algum papel na motivação do crime. É algo que reforça a dimensão moral da trama e o estudo sobre ética empreendido no arco do personagem. O problema é que muitos desses dilemas não são resolvidos de maneira satisfatória.

Altos e baixos

Como é comum na filmografia de Lee, há uma clara celebração da cidade de Nova Iorque, seu cosmopolitismo e sua diversidade cultural, em especial na cultura negra e latino-americana. Se em produções como Plano Perfeito (2006) Lee consegue costurar suas observações sobre a cidade e as tensões socioculturais dela de maneira natural na narrativa, aqui as coisas não funcionam tão bem. A maneira como ele insere uma celebração da cultura porto-riquenha em meio a uma perseguição tira o senso de urgência do momento e soa autoindulgente conforme ele corta da ação para falas dos atores Anthony Ramos e Rosie Perez (ambos colaboradores de Lee em seus filmes e séries) e uma performance do músico Eddie Palmieri.

A revelação de quem estava por trás do sequestro e quais são suas motivações deslocam parte dos temas do filme. Se inicialmente o sequestrador soa como alguém que foi injustiçado por King, quase como se ele fosse uma materialização dos pecados passados do empresário, na verdade ele era só um stalker que nunca teve qualquer contato direto com King. Um sujeito movido mais por frustrações com a própria vida do que por rancores pessoais por King.

Nesse ponto a narrativa deixa de focar em uma análise sobre a moralidade do protagonista para inserir uma ponderação sobre a produção e consumo cultural em uma época de economia de atenção. Há uma crítica a como a indústria cultural hoje está mais focada em dar visibilidade a coisas que possam viralizar na internet, mesmo que não tenham potencial de durar na memória do público, do que investir em produções ou artistas que possam não ter tanto apelo midiático ou capacidade de viralizar, mas que tem talento suficiente para produzir uma arte que seja impactante. É uma discussão que faz sentido nos tempos em que vivemos, mas que a narrativa não tem muito tempo para desenvolver já que a insere em seus minutos finais, deixando a reflexão soar superficial.

Luta de Classes não é um filme ruim, longe disso, mas as inconsistências de ritmo e os vários temas que não são desenvolvidos a contento enfraquecem o potencial de sua premissa que se sustenta principalmente por conta da performance intensa de Denzel Washington.

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