Existe uma beleza que não começa no espelho, mas no modo como a gente vive. E poucas pessoas traduzem essa ideia tão bem quanto Rob Freitas, uma das vozes mais sólidas e queridas do mercado de beleza e luxo, responsável por atravessar discursos, abrir portas e celebrar experiências que antes não incluíam corpos como o dela.
Mineira, filha de cabeleireira, Rob cresceu observando mulheres que se arrumavam para se reconhecer, não para performar. O cheiro de laquê, o barulho dos pincéis batendo no azulejo, as conversas que atravessavam hábitos, dores e vontades: tudo isso ajudou a formar seu olhar sobre o que ela chama de “beleza real”. Não uma estética higienizada, mas uma prática íntima, afetiva e cotidiana.
Hoje, entre as gravações do Beauty Delas, as parcerias com marcas que vão do luxo ao premium e a idealização do Natal das Pretas, Rob ocupa um lugar raro. É alguém que articula propósito, representatividade e mercado sem perder de vista o essencial: o cuidado consigo mesma.
Seu discurso não gira em torno de “alcançar um ideal”, mas de devolver o autocuidado ao território do bem-estar, do tempo próprio e da autonomia. É nessa chave que ela enxerga o “novo luxo”: menos logo, mais verdade; menos espetáculo, mais pertencimento; menos produção, mais presença.
A seguir, Rob Freitas fala sobre beleza como estilo de vida, a experiência de ocupar o espaço do luxo sendo uma mulher preta, os bastidores do Beauty Delas e o que realmente significa viver a beleza como um espaço de existência.
1. Beleza e estilo de vida estão cada vez mais conectados. Como você vê essa relação?
Eu vejo a beleza e o estilo de vida como coisas que se complementam. O jeito que a gente vive, o que consome, como cuida da mente e do corpo, tudo isso aparece na nossa imagem.
2. Sua infância ligada à beleza (filha de cabeleireira) influenciou seu olhar sobre “beleza real”?
Sem dúvidas, influenciou muito. Minha mãe sempre foi uma mulher muito bem-vestida, muito vaidosa com as roupas e os sapatos, mas não era alguém que se maquiava tanto. E eu acho que a beleza real também está nisso: em potencializar algo que você gosta e entende como seu. Eu brinco que, no meu caso, eu vim meio que com tudo, maquiagem, vestir bem, mas sem perder a realidade das coisas. E a beleza também é real quando você faz tudo isso por você. Minha mãe sempre se arrumou por ela. Lembro dela trabalhando horas e horas de salto, porque se sentia bem. E, com certeza, hoje eu também me arrumo por mim, porque me sinto bem.
3. Como é representar o mercado de luxo sendo uma mulher preta?
Lembro que a minha sensação era de estar desbravando um mundo novo. O mercado de luxo me trouxe muito autoconhecimento e muita bagagem dentro do universo da beleza. Hoje eu vivo minha melhor fase: continuo me relacionando com marcas de luxo e alto luxo, mas também com marcas premium e que atendem à grande massa.
4. Qual foi o impacto mais transformador do Natal das Pretas pra você e pra comunidade?
Olha, eu ainda não sei se posso dizer exatamente qual foi o impacto que o Natal das Pretas trouxe pra comunidade, mas pra mim, sem dúvidas, foi ter a certeza de que mulheres pretas podem celebrar suas vidas e existências sem precisar, antes de comemorar, relembrar a dor ou justificar a própria alegria. Eu espero que cada vez mais mulheres pretas possam simplesmente existir e celebrar. O Natal das Pretas representa exatamente isso: a celebração da nossa existência e o encerramento de um ciclo a cada ano. Esse ano acontece a terceira edição, e é muito especial ver como o evento ganhou vida própria. Pessoas me encontram, comentam que querem participar, que acompanham, que pedem pra abrir pro público. Isso me enche de alegria e reforça o sentido de tudo que ele representa.
5. No Beauty Delas, o que mais te surpreende e o que aprendeu sobre as mulheres que participam?
O que mais me surpreende é ver que a beleza tem um significado diferente para cada pessoa. O que é beleza pra mim, não necessariamente é beleza pro outro. E o que eu mais aprendi, ou confirmei, é que falar sobre beleza é algo muito mais complexo do que parece. Não é fútil nem superficial. O universo da beleza, seja no skincare, na maquiagem ou em qualquer forma de cuidado, realmente muda e transforma a vida das pessoas.
6. Como você equilibra exposição e autenticidade nas redes?
Eu fiquei pensando em como responder essa pergunta, porque, na verdade, eu praticamente não me exponho na internet no sentido de mostrar a minha vida íntima. São poucos os momentos em que abro algo pessoal. Eu vejo as redes como um espaço de conexão com quem me acompanha, claro, mas também como meu ambiente de trabalho, então sempre tento manter um olhar profissional. Mas a autenticidade vem quando eu consigo mostrar minhas vulnerabilidades dentro desse contexto. Recentemente, por exemplo, fiz um vídeo em que eu dizia que nem sabia por onde começar, porque estava na TPM, extremamente irritada, mas precisava trabalhar. Então eu ia me arrumar e mostrar o que a maquiagem fazia comigo. Mostrei um lado pessoal, o estar de TPM, mas dentro do meu universo profissional. Acho que é assim que eu equilibro: sendo real, mas sem me expor em assuntos desnecessários.
7. O que você vê como o novo luxo na beleza, pensando em bem-estar, tempo e propósito?
Pode parecer clichê, mas o novo luxo pra mim na beleza é se sentir bem. É entender que, a partir do momento em que você decide passar um protetor solar, tá fazendo isso única e exclusivamente por você. É quase como uma academia: fazer por mim o que só eu posso fazer. Eu sempre falo que o momento em que você está se maquiando ou fazendo skincare precisa ser um momento seu com você mesma, e não uma busca por uma perfeição que não existe. Quando a gente entende isso, tudo fica mais leve. O verdadeiro luxo é justamente isso: fazer por você e entender que é só pra você e sobre você.
Quer ficar por dentro dos eventos mais badalados, das novidades culturais, tendências de moda, beleza, viagens, gastronomia e tudo o que acontece na Bahia? Então siga o @BahiaSocialVip no Instagram e não perca nenhum detalhe!