O aumento de dietas restritivas nas redes sociais tem gerado confusão entre o que é uma necessidade médica real e o que representa apenas uma tendência alimentar passageira. Enquanto algumas condições de saúde exigem exclusões específicas de alimentos, muitas pessoas adotam restrições desnecessárias que podem comprometer seriamente sua saúde.
“A restrição alimentar clínica envolve a exclusão de alimentos por necessidade médica, baseada em diagnóstico e com acompanhamento profissional. Já na escolha alimentar, a exclusão é voluntária, sem critérios clínicos, o que pode levar a deficiências nutricionais se não for bem planejada”, explica Genalva Couto, nutricionista da Cliagen.
Diferenças
Do ponto de vista médico, existem condições específicas que demandam restrições alimentares rigorosas. Entre as principais estão a doença celíaca, que exige eliminação total do glúten, alergia à proteína do leite de vaca e intolerância à lactose. “Também são indicadas restrições em casos de diabetes, obesidade, dislipidemias e doenças renais, sempre com acompanhamento profissional para evitar deficiências”, detalha a especialista.
A diferenciação entre uma necessidade clínica real e uma tendência de dieta da moda passa necessariamente pela avaliação médica. “A distinção ocorre por meio de avaliação clínica e exames, conduzidos por profissionais de saúde. Necessidades reais são baseadas em diagnóstico e evidências. Já as dietas da moda surgem sem embasamento científico e podem comprometer a saúde se seguidas indiscriminadamente”, alerta.
Sinais de alerta
Diversos sintomas podem indicar a necessidade de avaliação médica antes de qualquer mudança alimentar radical. Alterações no ritmo intestinal, cansaço excessivo, perda ou ganho de peso sem causa aparente, azia frequente e mal-estar após as refeições são sinais que merecem atenção profissional.
“Entre os riscos mais comuns que observamos estão a perda de massa muscular, queda na energia, deficiências de vitaminas e minerais e, em mulheres, alterações hormonais como a ausência de menstruação”, destaca a nutricionista ao falar sobre os riscos de restrições desnecessárias.
Os Perigos das “dietas de eliminação” caseiras
As chamadas dietas de eliminação, quando realizadas sem orientação profissional, representam um risco significativo à saúde. “Essas dietas, quando feitas sem orientação, podem causar deficiências nutricionais, perda de massa magra, queda de imunidade e desequilíbrios hormonais. Sem diagnóstico, eliminam alimentos importantes de forma injustificada”, adverte a profissional.
Em casos mais graves, a especialista já observou consequências severas: “Desnutrição grave, com impacto no sistema nervoso, saúde óssea e função gastrointestinal. Em casos prolongados, pode haver comprometimento imunológico e risco de complicações clínicas sérias”.
A relação com transtornos alimentares
Um aspecto preocupante é a conexão entre dietas restritivas excessivas e o desenvolvimento de transtornos alimentares. “Dietas restritivas podem desencadear transtornos alimentares, e, por outro lado, esses transtornos frequentemente envolvem mais restrições. É uma relação bidirecional que exige atenção profissional”, explica a nutricionista.
Para pacientes que já praticam múltiplas alterações alimentares por conta própria, a abordagem deve ser cuidadosa. “Cada caso é único, individualizado e, muitas vezes, inclui apoio psicológico. É essencial compreender as crenças do paciente e aplicar estratégias graduais, sempre com consentimento e orientação profissional”, orienta.
Multidisciplinaridade
A importância do trabalho multidisciplinar, envolvendo médicos, nutricionistas e psicólogos, é fundamental. “Isso permite um acompanhamento completo, tratando o paciente de forma integral. Cada profissional atua em sua área, mas com o mesmo objetivo: promover saúde e reverter os impactos das restrições inadequadas”, conclui a especialista.
Antes de aderir a qualquer dieta restritiva, seja por influência de redes sociais ou outras fontes, é fundamental buscar orientação médica e nutricional adequada. A alimentação saudável deve ser equilibrada e adequada às necessidades individuais, não baseada em modismos que podem comprometer a saúde a longo prazo.
