Quando o assunto é vinho, uma das perguntas mais frequentes entre aficionados e curiosos é: qual o segredo para manter o vinho em perfeita qualidade ao longo do tempo? A resposta passa obrigatoriamente pelo armazenamento.
“Um vinho pode ser excelente, de grande safra, mas, se armazenado de maneira inadequada, perde aroma, sabor, cor e, principalmente, toda a sua complexidade”, explica Jonas Martins, Gerente de Operações da MMV Importadora de Vinhos.
Martins, que além de tudo é sommelier, explica de forma simples como armazenar vinhos, algo que tem despertado curiosidade, já que cada vez mais brasileiros estão criando seus próprios estoques em casa.
Existe uma única maneira de guardar vinho?
Ao contrário do que muitos acreditam, não existe uma regra única e universal para guardar vinhos, pois tudo depende de um fator primordial: o tipo de fechamento da garrafa. A convenção de guardar garrafas deitadas nasce da relação com a tradicional rolha de cortiça. A cortiça, retirada do sobreiro (Portugal é o maior produtor mundial), é uma madeira porosa. Quando a garrafa é mantida deitada, o líquido permanece em contato com a rolha, mantendo-a úmida e inchada. Isso reduz a entrada de oxigênio, permitindo que o vinho evolua lentamente. Se, ao contrário, a garrafa é guardada em pé, a rolha tende a ressecar, ampliando a troca de oxigênio, o que acelera a evolução do vinho e pode causar deterioração precoce.
Já as garrafas fechadas com tampas de rosca (screw caps), rolhas sintéticas ou tampas de vidro dispensam o armazenamento deitado. “Esses materiais não se beneficiam do contato com o líquido e mantêm a vedação de forma diferente, podendo, portanto, serem guardados em pé sem prejuízo à preservação do vinho”, ressalta Martins.
O tipo de vinho interfere na forma de armazenamento?
Como explicado acima, quem determina a forma correta de armazenar o vinho não é o tipo da bebida, mas sim a vedação utilizada na garrafa. Tintos, brancos, rosés ou espumantes podem exigir cuidados específicos de acordo com a rolha.
Um caso curioso diz respeito aos espumantes: embora sejam fechados com rolhas de cortiça, o armazenamento em pé é permitido — e comum. Isso acontece porque a bebida é pressurizada, e a força interna na garrafa garante que não haja troca de oxigênio significativa, indiferentemente da posição.
Dicas fundamentais para manter vinhos em seu auge
O cenário ideal para enófilos: conservar vinhos entre 12°C e 16°C, em um ambiente sem luz direta ou variações bruscas de temperatura. A umidade recomendada fica entre 60% e 70%.
“Isso é suficiente para evitar tanto o ressecamento como a umidade excessiva na rolha e ainda contribui para a conservação dos rótulos — ambientes secos podem fazer com que rótulos descolem e ambientes úmidos podem deformá-los”, reforça o diretor da MMV.
A luz, especialmente a solar, é outro inimigo: prefira ambientes escuros ou invista em luzes de LED, que não emitem raios prejudiciais. É importante evitar também vibrações constantes: guardar vinho debaixo de escadas, por exemplo, pode acelerar a evolução da bebida devido ao constante movimento. O ideal é armazenar as garrafas em lugares calmos, silenciosos e protegidos.
O que os produtores já fazem por você
Os próprios produtores de vinho adotam medidas para auxiliar na conservação: usam garrafas de vidro mais grossas e escuras para proteger a bebida da luz e da variação de temperatura. Muitas vezes, vinhos em garrafas transparentes, especialmente brancos jovens, indicam que aquele exemplar é feito para ser consumido logo após a compra — e não para envelhecer na adega.
Vale lembrar um dado importante: a imensa maioria dos vinhos produzidos hoje no mundo — estima-se que mais de 95% — são feitos para consumo imediato, em um ou dois anos após a produção. Apenas uma pequena parcela, usualmente os rótulos mais caros e elaborados, foi pensada para ser guardada e evoluir ao longo dos anos.
“Em resumo, guarde deitado somente os vinhos com rolha de cortiça natural. As demais opções podem ficar em pé. Priorize locais com temperatura constante, umidade controlada, pouca luz e sem vibrações. Por fim, confira sempre o tipo de vinho que você adquiriu: se for daqueles para consumir jovem, não faz sentido investir tempo (ou dinheiro) em uma guarda prolongada. Afinal, vinho é feito para ser apreciado — de preferência, em boa companhia e no momento certo”, finaliza o Gerente de Operações da MMV Importadora de Vinhos.
