O vinhedo Don Melchor terminou o ano de 2024 em festa. O vinho da safra 2021 foi eleito o melhor do mundo pela prestigiada revista Wine Spectator, que destacou: “Don Melchor, graças ao seu enfoque meticuloso ao longo de três décadas, garantiu seu legado como um referente mundial”. Mas a excelência dos vinhos da Don Melchor não vem de agora. O vinho da primeira safra, de 1987, é considerado um ícone do Chile.
Agora, o enólogo Enrique Tirado está percorrendo o Brasil para lançar a safra 2022. Em Salvador, depois de já ter passado por São Paulo e Rio de Janeiro em uma maratona de eventos, ele conversou com o Bahia Social Vip sobre a Don Melchor e suas safras. Confira abaixo:
Como foi receber o título de Melhor Vinho do Mundo?
Foi uma grande alegria para todos da Don Melchor. É um reconhecimento à uma história de 35 safras, à um terroir muito especial. E não é só para a Don Melchor, mas para o Chile, o país produtor de grandes vinhos. O Chile demonstra mais uma vez que pode fazer grandes vinhos. É um desafio também, pois temos que continuar, e queremos ser o número 1 todos os dias, todas as safras, já que sempre pensamos em fazer o melhor vinho do mundo.
Como vocês conseguem manter a excelência safra após safra, já que há épocas em que chove mais, outras há a seca?
Os vinhedos estão em Puente Alto, que é uma denominação de origem, no pé das Cordilheira dos Andes. Com isso, temos um solo pedregoso, um solo especial para produzir um Cabernet Sauvignon, com condições únicas para a produção. O clima está influenciado pela cordilheira. Todas as noites, caem ventos que refrescam os vinhedos. Há uma grande diferença entre a temperatura do dia e da noite. Então, temos um solo especial e um clima que é “cuidado” pela Cordilheira dos Andes. Há também a qualidade do Cabernet Sauvignon, que são plantados na região há 150 anos.
Mantemos a excelência também com a equipe por trás da Don Melchor. Há pessoas com muita experiência, com uma terceira geração que está cuidando da bottega, e toda a equipe comercial, de comunicação. Então temos uma combinação perfeita: solo, clima, vinhedo e equipe. Além disso, temos a convicção de que podemos fazer um grande vinho.
Além do Cabernet Sauvignon, há alguma casta que desempenha um papel importante na complexidade e estrutura de um Don Melchor?
No vinhedo, há 95% de Cabernet Sauvignon, mas temos uma pequena parcela de Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot. Temos 151 pequenas áreas, cada uma com um aroma, textura, cor e sabores especiais. Ao final, temos safras com 90%, 95% e até 100% de Cabernet Sauvignon, mas é muito importante ter uma diversidade de expressões de Cabernet Sauvignon e nossa filosofia é respeitar cada uma delas.
E como você determina qual uva vai fazer parte do vinho, além do Cabernet Sauvignon?
Cada parcela de uva vai acrescentar uma textura, um sabor, um aroma distinto. Se provarmos todas as parcelas, vamos sentir a personalidade. O mais importante é respeitar essas diferenças. Manejar o vinhedo e a vinificação com a ideia de captar a expressão mais pura de cada uma das parcelas. Provamos todas as parcelas, selecionamos as melhores, já que o clima pode determinar que parcelas vão terminar no vinho final. Quando está pronta a vinificação, passamos uma semana provando todos para eleger a melhor mescla final da Don Melchor.
É um trabalho em que os sentidos são importantes para entender qual é o melhor?
Por trás dos vinhos, há muita investigação, tecnologia, análise de vinhos, mas quando fazemos a mescla final, é só pelos sentidos: a degustação, a textura, os aromas, as cores. Don Melchor busca o melhor equilíbrio entre energia e delicadeza.
Existe alguma safra específica que o senhor considera como desafiadora?
Todas são bem desafiados, porque sempre buscamos fazer o vinho número 1 do mundo. E isso é um grande desafio e responsabilidade. Buscamos que cada vinho tenha o máximo e qualidade de cada safra. Então, cada safra, para mim, é um recomeço. Não pensamos: vamos fazer a safra 2025 como fizemos a 2021, a 2019 ou 1990. Cada safra é um novo desafio, com condições que podem mudar, com climas mais quente ou mais frio, climas normais, mais ou menos chuvas. Cada ano é um novo desafio.
E o que podemos esperar da Safra 2022, que acabou de chegar?
A safra de 2021 se tornou uma grande referência no mundo. Considero a de 2022 uma continuação. São duas safras mais frias, mais frescas, que tem uma expressão mais intensa, com equilíbrio. A diferença é que, enquanto a de 2021 mostra uma rica complexidade de todo o vinhedo, a de 2022 mostra de forma mais pura o conceito de parcelas, dos sabores e dos aromas. Há uma energia, uma expressão especial de cada uma das parcelas. Há uma intensidade maior. É uma grande safra, que está em linha com a de 2021.
Don Melchior melhor com o tempo depois que ele já está na casa do cliente?
DOn Melchor é um vinho que você pode comprar e só tomar depois de 3, 4, até 20, 40 anos. Ele vai ganhar mais complexidade com o passar do tempo. O Don Melchor é um vinho com potencial de guarda muito importante.
E quais são as três palavras que sintetizam a safra 2021?
Energia, fineza e excelência.
