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Música

Soprano internacional Carla Cottini volta ao Brasil para série de recitais e concertos

Foto | Anne Wilk

Há mais de uma década, a soprano ítalo-brasileira Carla Cottini se destaca nos principais palcos de ópera e de concertos do mundo, consolidando-se como uma das grandes vozes da atualidade. Nascida em São Paulo, a artista tem conquistado crítica e público com sua expressividade marcante e técnica refinada na interpretação de personagens de óperas e repertorio camerístico e de concerto que tem em comum a marca da genialidade de compositores como Verdi, Mozart, Debussy, Bellini, Puccini, Villa Lobos, Schumann e Schubert, entre outros.

Nos dias 2, 4, 7 e 10 de maio de 2025, em uma montagem inédita de Don Giovanni, passados 12 anos desde sua estreia profissional no Theatro Municipal de São Paulo, Carla retorna ao palco do centenário templo da cultura paulistana para novamente dar voz e vida à Zerlina, personagem que consolidou o início promissor de sua trajetória e preconizou sua longeva relação com a obra de Wolfgang Amadeus Mozart e do italiano Lorenzo Da Ponte, libretista das mais célebres óperas do compositor austríaco: a trilogia formada por As Bodas de Fígaro (1786), Don Giovanni (1787) e Così fan tutte (1790)

“Zerlina foi um marco em minha vida, meu primeiro personagem operístico em um palco muito importante. Entusiasmada, subi ao palco do Theatro Municipal cercada de grandes estrelas que cantavam no Metropolitan, no Scala de Milão. A partir dessa produção, que foi uma escola para mim, a combinação Mozart/Da Ponte é a que eu mais cantei na vida. É muito bonito poder retornar ao Municipal como Zerlina depois de ter me tornado mãe. E me parece simbólico voltar a esse lugar, porque cantei Don Giovanni em diversos países do mundo, mas acho que agora vou poder dar voz a uma Zerlina totalmente diferente”, promete Carla.

Com direção musical do maestro Roberto Minczuk, a nova montagem de Don Giovanni terá o Coro Lírico Municipal sob regência do maestro argentino Hernán Sanchez Arteaga, e contará, ainda, com uma inventiva direção cênica do dramaturgo, ator, cenógrafo e palhaço Hugo Possolo, um dos fundadores do grupo teatral Parlapatões.

Mãe de Sofia, de 2 anos, Carla celebra seu retorno aos palcos brasileiros após um momento delicado de sua trajetória. Em 2019, quando passou a residir em Berlim, a soprano recebeu o convite do diretor cênico Antônio Araújo, do Teatro da Vertigem, para integrar o elenco de uma provocativa montagem de Os Capuletos e os Montéquios, a adaptação de Vincenzo Bellini para Romeu e Julieta, o clássico de Shakespeare. Adiada devido aos impactos trágicos da pandemia, a montagem foi, enfim, apresentada ao público do Theatro São Pedro, em São Paulo, em 2022, com direção musical do maestro Alessandro Sangiorgi.

“Tinha me preparado por um ano, porque sou completamente apaixonada pelo trabalho do Antônio, e também porque essa seria a primeira ópera de Bellini que eu iria cantar. Interpretei Julieta de diversas formas, mas nada parecido com a direção do Tó. Uma semana antes do primeiro ensaio, no dia 15 de março de 2022, no dia do meu aniversário, fiz o teste e descobri que estava grávida. Fiquei muito feliz, mas pensei: ‘E agora, como é que vai ser isso?. Quando os ensaios começaram, estava me sentindo extremamente enjoada, cansada, com um forte mal estar físico. Não quis contar para ninguém que estava grávida, porque ainda estava com seis semanas de gestação e me sentia vulnerável como mulher e ser humano”, recorda Carla, que também enfrentava outra uma adversidade inédita em sua carreira. 

“Foi também minha primeira ópera depois de uma cirurgia nas pregas vocais. Toda a questão da reabilitação vocal pós-cirurgia foi um capítulo à parte. Hoje avalio que eu poderia ter sido mais gentil comigo, porque era impossível que eu conseguisse cantar da maneira como eu gostaria, sobretudo nas músicas que demandavam mais técnica. Foi um momento desafiador, mas que me trouxe muito aprendizado. Hoje, exatos três anos depois, suspeito que a Carla de 2022 estaria muito feliz se soubesse como ela se sentiria em 2025. Conceber, parir, amamentar e cuidar da Sofia é um processo que me transformou e segue me transformando. É a experiencia mais selvagem, intensa, desafiadora e maravilhosa que já vivi. Me fez entender a relevância do que é, de fato, essencial, tanto no modo de viver quanto no modo de fazer minha arte”, avalia.

Temporada 2025

Grandiosa, com quase três horas de duração e oito personagens, Don Giovanni é considerada uma das mais importantes óperas de todos os tempos. Ainda hoje, quase 250 anos após sua estreia, é um dos títulos mais representados pelas casas de ópera mundo afora. Para além da qualidade textual, é notável a forma como Mozart cria níveis de expressão dramática lançando mão de diferentes recursos musicais que oferecem à plateia informações sobre o enredo em meio a momentos memoráveis, como o dueto carregado de ironia e sedução Là Ci Darem la Mano, interpretado por Don Giovanni e Zerlina, que novamente tomará corpo e voz de Carla Cottini.

Passada a série de apresentações no Theatro Municipal de São Paulo, Carla voltará ao Brasil, no segundo semestre de 2025, para apresentar uma nova série de recitais ao  lado do pianista Ricardo Ballestero, com quem mantém colaborações regulares desde 2016 interpretando peças camerísticas de, entre outros, Nepomuceno, Villa-Lobos, Debussy, Schumann e Strauss. Carla e Ricardo apresentarão tanto o seu programa em duo quanto um novo projeto que conta com a participação do clarinetista Bruno Ghirardi.

“Minha relação com o Ricardo Ballestero começou quando fui me preparar para interpretar a Missa em Dó Menor,de Mozart, tendo ele como professor. Ricardo notou que eu tinha características que talvez fossem interessantes para a música de câmara e me incentivou a mergulhar nesse universo. Fizemos vários trabalhos juntos e minha paixão pelos recitais foi crescendo à medida em que a parceria com Ricardo foi se tornando a mais forte em minha carreira”, afirma Carla.

Em novembro, a soprano, que pretende colaborar com projetos sociais voltados à formação musical de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, também brilhará na programação de abertura do 13º Festival de Música Erudita do Espírito Santo, que ocorrerá entre os dias 7 e 9, compondo agenda das mais esperadas por ela, graças a um reencontro afetivo.   

“Fui convidada para integrar o elenco de uma ópera inédita, que está sendo composta pelo Núcleo de Criação de Ópera, uma iniciativa do Festival de Música Erudita do Espírito Santo que incentiva a produção contemporânea. Será um momento emocionante para mim, porque cantarei ao lado de uma pessoa que ainda não posso revelar o nome, mas que me ensinou muito. Também estarei acompanhada de uma equipe de colegas e amigos pelos quais tenho muito carinho e grande afinidade artística”, antecipa Carla. 

Embaixadora de Villa-Lobos

Em junho de 2025, desta vez em Berlim, Carla, que recentemente passou a ser representada pela Stagefield, uma das mais tradicionais agências de entretenimento do mundo, voltará a subir ao palco com a Orchester des Wandels, octeto de violoncelistas cujo nome – ‘Orquestra da Mudança’, na tradução em português – sintetiza com propriedade a iniciativa que agrega músicos de diferentes orquestras em defesa de causas de preservação socioambiental. Com atuação no Brasil por meio do Projeto Araponga, que investe no replantio de árvores raras utilizadas na manufatura de instrumentos musicais de câmara e orquestra, a Orchester des Wandels recentemente conquistou o 17º Prêmio Alemão de Sustentabilidade, na categoria Cultura, Mídia e Indústrias Culturais. Na entrega da honraria, em uma cerimônia realizada em Dusseldorf, em 24 de novembro de 2025, Carla se apresentou com o octeto para interpretar uma das obras-primas do repertório de Heitor Villa-Lobos, as Bachianas nº5, a composição brasileira mais conhecida no mundo.

A parceria com a Orchester des Wandels teve início em junho de 2024, quando Carla foi convidada para substituir a soprano francesa Sarah Aristidou, e teve apenas dez dias para dominar a complexidade dos dois movimentos das Bachianas nº5. Deu tão certo que Carla foi convidada a integrar oficialmente a orquestra alemã e hoje atua como uma espécie de embaixadora da música de nosso maior compositor e maestro na Europa.    

“Villa-Lobos fez maravilhosamente bem essa fusão de nossa música com a música de Bach. Na Alemanha, isso tem um efeito lindo: por mais que o público não saiba que obra se chama Bachianas, ele logo identifica essa informação. Villa-Lobos é muito claro nessa intenção. Ele nos leva à essência de Bach, ao mesmo tempo em que funde essa herança com toda a tradição da música folclórica brasileira, trazendo também elementos territoriais e a exuberância de nossa natureza. Demorei muito tempo pra entender como é que se cantava as Bachianas. Dez anos atrás, eu não tinha a menor condição e hoje é o repertório que eu mais canto. Amo cantar música brasileira”, afirma Carla, que, com a mesma primazia, também interpreta obras em espanhol, francês, italiano e alemão.

Uma cantora no divã

Às voltas com o desafio de conciliar as contingências da maternidade com uma nova agenda internacional à altura de sua relevância artística, Carla também se desdobra para concluir o semestre final da Formação em Psicanálise, feito de forma remota no Centro de Estudos Psicanalíticos de São Paulo – CEP. A experiência acadêmica,  segundo ela, tem reinventado sua relação com a música e com suas personagens.     

“Meu mais recente trabalho da graduação de Psicanálise se chamou A Escuta Como Elemento Principal. Nele, eu comparava os desafios do cantor com os do ofício do psicanalista. Entre várias vertentes, destaquei a prática da escuta, da intervenção, da interpretação, e cheguei a comparar o divã com o palco, porque em ambos você pode ser aquilo que você quiser. São espaços onde a sua fantasia é que libera o processo”, defende Carla, que, recentemente, começou a clinicar. 

“Curiosamente, o contato com minha primeira analisanda foi justamente um dia depois de eu fazer um grande recital solo aqui, na Alemanha. Fui dormir cantora e acordei psicanalista, ainda carregada daquela energia do concerto, e pensei: ‘E se ela buscar meu nome no Google e ver vídeos meus no YouTube? É claro que ela vai perguntar: ‘Como assim? Você é cantora! O que é que você está fazendo aqui?!’. Isso me faz refletir sobre como ninguém é uma coisa só. Nossas facetas são múltiplas, assim como são muitas as possibilidades de contribuirmos, da nossa maneira, pra que esse mundo seja um pouquinho melhor”, conclui. 

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