As imagens chamam atenção: um grupo de pessoas usa máscaras de cachorros e se comporta como se fossem animais, de quatro apoios e uivando. O vídeo, que viralizou nas redes sociais, foi gravado neste mês na Holanda, onde um concurso reuniu pessoas que se identificam como cães. O comportamento de pessoas therians ganha cada vez mais adeptos e causa dúvidas. Trata-se de modismo ou distúrbio real?
Quem se identifica como tal garante que o comportamento é natural. Caso do jovem Henrique Cannav, que acumula mais de 490 mil seguidores no TikTok. Na rede social, ele se identifica como therian. “A nossa situação não é doença psiquiátrica e nem loucura. Nós somos, sim, animais que nasceram dentro do corpo de pessoas. Eu, por exemplo, sou um lobo. Não é palhaçada, nós apresentamos esses sintomas desde a infância”, afirma em um vídeo publicado em seu perfil. Piada ou não, o assunto deu o que falar nos comentários.
Não há como negar que os therians também estão cada vez mais comuns fora das redes sociais. Eles aparecem em shopping centers e nas salas de aula, preocupando pais que nunca ouviram falar no comportamento. Sobre o assunto, a psicoterapeuta e neurocientista Ana Chaves, que estuda o comportamento humano, explica o que caracteriza a condição.
“As pessoas podem se identificar com um animal de diversas maneiras, incluindo espiritual, psicológica ou fisicamente. Elas também podem compartilhar uma forte conexão com o animal escolhido, acreditando que compartilham características, comportamentos ou uma afinidade espiritual com ele”, detalha Ana Chaves.
O comportamento pode ter início nos primeiros anos de vida e se desenvolver com o passar do tempo. “À medida que as pessoas amadurecem, a teriantropia pode se tornar um estilo de vida mais sério e espiritual”, avalia. A neurocientista explica ainda que a condição não costuma ser considerada um transtorno. “Identificar-se como therian não é geralmente considerado um transtorno mental, embora alguns tenham sugerido que possa ser. Em vez disso, a teriantropia é vista como uma forma de diversidade neurológica”, classifica.
A própria Ana Chaves já precisou lidar com therians mais de uma vez. Na sala em que sua filha estuda no colégio, um colega tem comportamentos semelhantes a uma raposa. Em uma viagem, em São Paulo, a neurocientista se deparou com pessoas em coleiras, imitando gestos de cachorros, dentro de um shopping center. “Therians podem sofrer estigma e discriminação, o que impacta seus relacionamentos sociais. No entanto, uma identidade therian também pode atuar como um fator de proteção ou para chamar atenção sobre alguma falta, como um pedido de socorro”, completa.
