Outro dia, andando sem pressa por uma tarde de céu pastel, reparei em algo que se repetia como um refrão sutil: pés delicadamente envoltos em tiras finas, quase como se cada passo tivesse vindo direto de um ensaio de balé. Não era coincidência — era tendência. O balletcore já não está mais apenas nos desfiles ou no feed da fashionista parisiense. Ele tomou as ruas.
Talvez seja uma resposta inconsciente ao excesso. Depois de tantas temporadas de solados robustos, plataformas e sneakers maximalistas, faz sentido que a moda procure abrigo em algo mais leve, mais suave, quase etéreo. E a sapatilha — especialmente a versão com amarração — reaparece como esse ponto de equilíbrio entre o conforto e a poesia visual.
Da delicadeza à atitude
Mas não se engane: apesar da estética delicada, o retorno das ballerinas vem com personalidade. O detalhe lace-up, inspirado nas fitas das sapatilhas de dança, é quase uma armadura feminina: envolve, sustenta, enfeita. É romântico, sim — mas também é forte. E é justamente esse contraste que torna a peça tão interessante.
Quando o balé encontra a cidade
A Schutz, atenta ao movimento, lançou recentemente a Lola — um modelo que flerta com o universo do balé sem abrir mão de elementos urbanos. Com versões em couro, camurça e até jeans com cristais (sim, jeans com cristais!), ela é a prova de que o balletcore pode — e deve — ser versátil. A versão Studs, por exemplo, tem aquele brilho na medida para sair do clássico e tocar o cool.
O solado flat e o elástico no calcanhar garantem o conforto necessário para quem precisa dançar pelas demandas do cotidiano. Já o bico quadrado traz uma leitura mais atual, uma certa rigidez gráfica que contrapõe a fluidez do restante.
Não é só sobre moda. É sobre sentir-se bem.
Adotar o balletcore não exige piruetas no look. Uma sapatilha com amarração já muda tudo. Combine com jeans, alfaiataria ou vestidos leves — a ideia é brincar com o contraste. E, mais do que seguir uma tendência, é sobre resgatar um jeito de vestir que acolhe, que suaviza, que acompanha o passo sem apertar.
Talvez o retorno das ballerinas seja menos sobre o visual e mais sobre o que ele desperta: leveza, suavidade, uma vontade de andar bonita sem grandes esforços. Um convite silencioso para dançar a própria rotina com mais graça.