Elis Regina, uma das cantoras que ajudou muito Milton Nascimento a aparecer para o mundo, teria dito: “Se Deus cantasse, teria a voz de Milton Nascimento”. Acredito que poucos discordem disso. Então, é possível um documentário sobre Milton Nascimento, abordando sua última turnê, com narração poderosa de Fernanda Montenegro, dar errado? Sim, em parte. É o que vemos em Milton Bituca Nascimento, que estreia quinta-feira, 20, nos cinemas.
Claro que o problema do documentário é muito menos culpa dos geniais Milton e Fernanda, e mais das escolhas feitas pela diretora Flávia Moraes. A começar que o documentário é muito irregular e verborrágico. São quase 50 pessoas contando, em quase 2h, como Milton Nascimento é genial. Some-se a isso, a narração de Fernanda, meio filosófica – com qualidade de botequim – meio poética. Parece narração de uma publicidade de banco falando sobre um artista.
Há artistas internacionais como Spike Lee, Steve Jordan, Stanley Clark e Quincy Jones mostrando o poder de Milton. Também Sérgio Mendes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Simone. Há ainda cantores da nova geração como Tim Bernardes, Zé Ibarra e Maria Gadu, Lianne La Havas. Todos – e mais umas dezenas – falando como Milton Nascimento os influenciou. A edição também não é boa, com imagens de duas pessoas – ou até do próprio Milton – falando ao mesmo tempo, que nada acrescenta do ponto de vista narrativo, só exige um esforço para tentar ouvir o que cada um tá falando.
O documentário ganha força quando Milton aparece para contar sua história, seus sentimentos. É emocionante ver suas interações, o poder que exerce quando entra no palco para apresentar sua última turnê. Também as participações da sua “trupe” Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso, dentre outros, que lançaram o espetacular e revolucionário álbum Clube da Esquina, dão um fôlego ao documentário. As canções, obviamente, também garantem uma excelente experiência ao assistir à Milton Bituca Nascimento.
Milton Bituca Nascimento consegue ter força graças ao seu homenageado e sua música, mas soa enfadonho em grande parte do tempo quando foca em quase 50 artistas falando o óbvio: como Milton Nascimento é um gênio.