No dia 23 de novembro, às 18h30, o cantor, compositor e instrumentista Gilberto Gil, ao lado do maestro e compositor italiano Aldo Brizzi, apresenta a ópera Amor Azul. Pela primeira vez em Salvador, o concerto acontece na Concha Acústica – Teatro Castro Alves e conta com a Orquestra e Coro da Neojiba e solistas do Núcleo de Ópera da Bahia.
Amor Azul se debruça sobre a história de amor entre o deus hindu Krishna e a mortal Radha. A ópera apresenta 40 músicas inéditas, compostas por Gilberto Gil e Aldo Brizzi. São cerca de 150 artistas no palco, entre músicos, cantores, solistas e bailarinos, celebrando a mistura de música de concerto, canto lírico, música popular brasileira e a dança tradicional indiana.
A ópera foi escrita durante sete anos por Gil e Brizzi. “É um poema de mais de mil anos atrás que trata de vários deuses indianos e tramas afetivas e amorosas entre eles, o amor de Krishna e Radha, dois grandes personagens místicos e míticos da tradição hindu. O plano é ter a ópera completamente encenada em breve”, afirma Gil. Segundo Brizzi, o texto principal vem de ‘Gita Govinda’, de Jayadeva Goswami, considerada uma das obras primas da literatura mundial, “um canto de amor erótico-místico”.
Segundo ele, o designer tropicalista Rogério Duarte (1939-2016) foi quem primeiro apresentou o poema a ele e a Gil, já que estava traduzindo-o do sânscrito. “Rogério, Aldo e eu fomos colaboradores durante muitos anos, e Rogério também um adepto da cultura indiana e Hare Krishna”, conta Gil.
A adaptação do original foi feita em colaboração com o poeta André Vallias. “Gil é o fio condutor do espetáculo. Ele conta a história pela música. Ele está em cena o tempo todo conosco e canta 20 músicas”, conta Aldo. Segundo ele, para este show em Salvador, foi feito um trabalho com os solistas para que também se aproximassem da música popular. “Os cantores vêm da música lírica, mas com um trabalho de aproximação da música popular sem perder toda a técnica erudita e colocando mais sotaque à interpretação”, afirma o regente.
“Essa música foi feita na Bahia, lugar ideal para oferecer ao público baiano essa novidade de Gil. São músicas novas e inéditas ainda não apresentadas na cidade onde foram compostas “, diz Aldo.
História de amor em dois atos
A obra se desdobra em dois atos, com um intervalo de 20 minutos entre eles, nos quais o público acompanha a relação das divindades em diferentes cenários, desde a Índia mítica do passado e o Brasil vívido da contemporaneidade. Gil está no palco no papel de Jayadeva, o contador da história e de Vishnu, um dos deuses supremos do hinduísmo.
As composições exclusivas que tecem a narrativa unem orquestra sinfônica, balé indiano, vozes populares e coro lírico a gêneros musicais como samba, bossa nova e afoxé, além de incorporar a percussão afro-brasileira e o veena, um tradicional instrumento de cordas indiano.
Gil e o hinduísmo
A relação do músico baiano com o hinduísmo é antiga e duradoura. Da mesma forma que trata outras religiões, o artista vê no sagrado uma fonte inesgotável de inspirações. Durante a década de 1960, o compositor se aproximou do hinduísmo e da entrega à meditação durante a repressão da ditadura militar.
O contato com outras vertentes religiosas, como o candomblé, o catolicismo e a umbanda, culminou em canções como Se eu quiser falar com Deus (1980) e Andar com fé (1982). Sucesso em Paris e na Sala São Paulo As primeiras – e até hoje únicas – apresentações de Amor Azul aconteceram em dezembro de 2023 no auditório da Radio France, em Paris, com a Orquestra e o Coro da instituição, e em agosto de 2024, na Sala São Paulo.
Em Paris, foram três performances com ingressos esgotados, exibidas cinco vezes na televisão francesa e aplaudidas de pé a cada noite. Público e crítica destacaram a ópera como um “triunfo”, “uma criação original” e “uma festa prodigiosa”, tornando-a um dos ápices recentes de uma carreira tão celebrada como a de Gilberto Gil.
Segundo o jornal Le Monde “aqueles que já visitaram a ‘Maison’ mil vezes nos garantem: desde que se lembram, nunca tinham visto os membros da Orquestra e do Coro da Radio France balançando a cabeça com tanto entusiasmo após um show”.
Em agosto deste ano, o espetáculo também foi apresentado na Sala São Paulo, na capital paulista, em três datas com ingressos esgotados. O concerto contou com a participação da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo – Ojesp e do Coro Acadêmico da Osesp. Segundo a Folha de S. Paulo “em uma Sala São Paulo lotada, Gilberto Gil, de 82 anos, revelou a resolução de sua obra artística, que definiu os rumos da canção brasileira no século 20.
E a ópera abrigaria a maximização de tal pensamento – uma espiritualidade irrestrita que ganhou a forma de uma história de amor magnânima.” Para Glauber Amaral, diretor de produção do Concerto, a expectativa para a apresentação na Concha é grande: “esperamos que o público baiano se contagie com a espiritualidade musical de Gilberto Gil, a sonoridade clássica do Núcleo de Ópera da Bahia e a sutileza dos tambores do candomblé, dando vida à ópera Amor Azul”, afirma. “Estaremos na casa de Gil, no templo da Neojiba e no terreno da Concha Acústica. Assim como Ganges encontra o Jamuna, em Salvador o Amor Azul aportará no infinito mar da Bahia”, finaliza o diretor.