No mundo das artes, a matriz é a base física ou conceitual a partir da qual uma obra é criada. Ou seja, é onde tudo começa. Por isso, quando o fotógrafo Kiolo e o empresário Moacy Veiga se uniram para trazer um novo projeto à cena artística baiana, não tiveram dúvidas sobre o nome. A Galeria Matriz chega para celebrar as matrizes criativas de artistas que têm a Bahia como essência, reverenciando o legado de nomes que já fizeram história e abrindo espaço para a expressão de novos talentos.
A proposta poderá ser conferida durante a sexta edição da Casas Conceito, que ocupa o Palacete Tira-Chapéu (Rua Chile), de 3 de setembro e 3 de novembro. Com um projeto criado especialmente para a mostra, a Galeria Matriz estreia em grande estilo, apresentando ao público a exposição “Das cores e sombras”, com fotografias inéditas de Akira Cravo, que morreu precocemente em 2023. A curadoria caberá a Lukas Cravo, designer, fotógrafo e irmão do artista homenageado.
“O uso de cor e sombra, sempre com algo de misterioso, era uma coisa que Akira fazia super bem, mas não exibia muito. Essas imagens foram produzidas entre 2012 e 2016 e ficaram guardadas todo esse tempo, mas já com uma ideia de composição pensada por ele mesmo, então o processo fluiu”, diz Lukas, que conta com o privilégio de ter atuado ao lado do irmão também profissionalmente, como responsável pela impressão e comercialização de suas obras.
Parceria pela arte
“Nossa intenção é valorizar a arte que conta a história da Bahia a partir de múltiplas linguagens inspiradas na nossa identidade, promovendo o encontro de diferentes estilos e gerações”, conta o fotógrafo Lucas Ferraz, mais conhecido como Kiolo, que há pouco mais de dez anos migrou da área de design gráfico para se tornar uma referência da nova geração de fotógrafos baianos. Ele amplia seu portfólio de projetos profissionais ao fundar a Galeria Matriz, mas conta que a fotografia continuará sendo seu ofício.
Para o empresário Moacy Veiga, o projeto representa mais um passo na trajetória de investimentos que valorizam a região que pode ser considerada o coração de Salvador. “Minha expertise é o segmento de tecnologia, mas a valorização da cultura e da arte sempre esteve no meu horizonte. E nada melhor do que fazer isso na primeira rua do Brasil, o lugar onde tudo começou”, diz o empreendedor, que é sócio do Palacete Tira Chapéu e proprietário dos edifícios Gorges e Art Nouveau, também localizados na Rua Chile.
Acervo atemporal
Ao longo dessa temporada inicial, o ambiente, que tem assinatura do arquiteto Danilo Cajaíba, também servirá como cenário para eventos culturais, além de funcionar como vitrine para outros artistas representados ou cujas obras foram adquiridas pela Galeria Matriz. Esse acervo inclui nomes como Ademir Martins, Caetano Dias, Calasans Neto, Carybé, Deise Pucci, Emanuel Araújo, Floriano Teixeira, Jamison Pedra, João José Rescala e Mario Cravo Jr.
Boa parte dessas obras chegaram à Matriz por meio de representantes e familiares dos artistas, mas algumas aquisições são fruto de um verdadeiro trabalho de resgate. Um volume significativo de itens esteve longe dos olhos do público em coleções particulares ou em espaços de acesso restrito. Há, ainda, os casos em que a galeria aposta em trabalhos menos conhecidos de artistas consagrados para dar visibilidade a facetas até então invisibilizadas.
Entre os destaques do acervo estão peças exclusivas da série Cabeça de Tempo, de Mario Cravo Jr, representante da da primeira geração de artistas plásticos modernistas da Bahia. As obras foram esculpidas pelo artista a partir de pedaços de madeira resgatados dos escombros do incêndio histórico que atingiu o antigo Mercado Modelo, então localizado no prédio da Alfândega, em 1984.
