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Crítica – Moviepass: A Última Sessão

Eu me lembro de acompanhar a ascensão e queda do Moviepass enquanto acontecia. Um serviço de assinatura que lhe permitia assistir quantos filmes quisesse nos cinemas parecia um sonho, mas desde a primeira vez que soube do serviço ficou claro para mim que pagar dez dólares por mês para poder assistir quantos filmes quisesse no cinema não era um modelo de negócios sustentável para a empresa. Não à toa que em menos de um ano ela pediu falência depois de tentar reestruturar o funcionamento do serviço sem, no entanto, aumentar o preço. O que eu descobri ao assistir ao documentário da HBO Moviepass: A Última Sessão é que a queda da empresa tem outras questões para além de um modelo de negócio obviamente falho, com gestores picaretas e racismo corporativo.

 Estruturalmente é um típico documentário que se desenvolve ao redor de entrevistas e imagens de arquivo, sem muita ambição de arriscar qualquer coisa diferente com o formato. Ainda assim, consegue manter o espectador envolvido pelo modo como enquadra a narrativa. Seria fácil tratar a história como simplesmente mais um negócio fracassado num período em que salas de cinema tentam se adequar à competição com streaming e internet, porém, o roteiro encontra caminhos interessantes para guiar a discussão, falando de preconceito e da dimensão performática do empreendedorismo startupeiro que é tão presente na economia atual. 


A primeira grande revelação do filme acontece logo no início quando descobrimos que Mitch Lowe e Ted Farnsworth, as duas figuras que apareciam constantemente como criadores e gestores do serviço, não apenas não criaram o Moviepass como excluíram da empresa os criadores, os empreendedores negros Stacy Spike e Hamet Watt. A trama mostra como eles é que tinham a visão do negócio e um planejamento de longo prazo para crescer o serviço aos poucos e mantê-lo sustentável e funcional. O problema é que ambos tinham dificuldade de conseguir investimento, então um dos investidores que eles tinham sugere trazer esses dois homens brancos que sabiam movimentar o mercado para ajudar o negócio a crescer.

O problema é que Mitch e Ted não se mostram interessados em uma estratégia a longo prazo, baixando o preço do serviço para dez dólares sem nenhuma intenção de aumentar ou mudar a estrutura do serviço para que o negócio possa de fato dar lucro. Além disso, os dois removem Stacy e Hamet da empresa, tomando o controle do conselho e passando a ser gestores plenos embora não tivessem nenhuma noção da engenharia do negócio.

O documentário revela como Mitch e Ted, incluindo entrevistas com Mitch nas quais suas tentativas de defesa só reforçam as críticas que o filme faz, se deslumbraram com a indústria do entretenimento, torrando milhões em festas com celebridades que nada serviam para melhorar o negócio. Do mesmo modo, o filme mostra que a vida pregressa dos dois é basicamente de picaretas que abriam empresas, inflavam seus valores para entrar no mercado de ações e depois que lucravam com o aumento de valor das ações fechavam tudo e partiam para a próxima. São pessoas menos interessadas em fazer um negócio crescer e mais em criar uma impressão de sucesso para satisfazer a especulação financeira de investidores da bolsa de valores.

Nesse sentido, a oposição entre os estilos de Mitch e Ted com o de Stacy e Hamet revela algo que já tinha sentido quando assisti a minissérie The Dropout: a ideia de que esse meio de startups e de capital de risco valoriza mais uma performance de empreendedorismo do que gestores técnicos que de fato sabem o que estão fazendo e entendem a tecnologia que constroem. Apesar de terem um plano e capacidade gerencial Stacy e Hamet tem dificuldade de captar investidores justamente por não corresponderem ao que o mercado espera de um empreendedor de startup (tanto em termos de conduta como o de tom de pele). Já Mitch e Ted fazem a exata performance que o mercado espera, falando termos do momento tipo “disruptivo” e platitudes vazias sobre gestão que não dão nenhuma especificidade a respeito de suas estratégias para o negócio, mais preocupados em dar uma impressão de sucesso para aumentar valor de ações do que em produzir um bom serviço.

O resultado de ter gestores performáticos ao invés de pessoas que de fato entendem do negócio é justamente a falência relâmpago da empresa menos de um ano depois de Mitch e Ted assumirem e colocarem um modelo de negócio claramente insustentável. Que Mitch tenha pulado fora da empresa quando viram a coisa naufragando e colocado outras pessoas à frente das operações do dia a dia só reforça o quanto eles são sanguessugas desprezíveis. Isso e também as múltiplas provas que eles criaram várias barreiras para que os clientes pagantes usassem o serviço de modo a tentar evitar grandes perdas de receita, uma ação ilegal que os colocou na mira de órgãos reguladores.

Mais do que apenas uma história sobre a falência de uma empresa, Moviepass: A Última Sessão é sobre racismo no meio empresarial e como essa cultura de empreendedorismo, a despeito de seu discurso de inovação, valoriza mais as aparências e a performance do que conhecimento de fato.

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