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O Conde

Dirigido pelo chileno Pablo Larraín O Conde parte de uma premissa bem curiosa: e se o ditador Augusto Pinochet não tivesse morrido e na verdade fosse um vampiro que ainda estivesse vagando por aí? É uma ideia que por si só já despertou minha curiosidade, mas infelizmente a premissa acaba sendo mais interessante do que o filme em si.

Na trama, o Conde (Jaime Vadell), apelido pelo qual Pinochet gosta de ser chamado, é um vampiro que vive recluso em uma propriedade remota se alimentando do sangue de incautos enquanto lida com a cobiça de sua esposa e seus filhos que, ao contrário dele, não são vampiros. O Conde fica entediado com essa imortalidade e decide que em breve dará um fim a sua vida, dividindo seus bens entre os herdeiros, o que gera briga entre eles. No entanto a chegada da contadora Carmen (Paula Luchsinger) desperta novos interesses no velho vampiro.


É uma história sobre a permanência do mal e como o fascismo continua a espreita mesmo depois que aparentemente nos livramos dele. O filme encontra algumas imagens impactantes para pensar sobre esses temas, como a cena em que ouvimos a narradora dizer que o Conde voa ao palácio presidencial chileno todo ano para conferir se finalmente fizeram uma estátua para ele. A ideia de Pinochet ainda assombrar a política chilena nos faz pensar em como o país (e a América Latina como um todo) ainda lidam com os espectros do fascismo.

O problema é que o filme expõe essas ideias em seus primeiros minutos e depois passa a andar em círculos com sua trama repetindo os mesmos temas sem aprofundar muita coisa a respeito deles. Os herdeiros do Conde servem para ilustrar uma elite rentista e parasitária que não vê problema em literalmente dividir a casa com um monstro fascista sanguinário desde que isso lhes dê riqueza e conforto material. Carmen está ali para nos mostrar uma certa hipocrisia da Igreja Católica, que condena o fascismo, mas não vê problema em enriquecer em cima dele.

Essas ideias são evidentes desde o primeiro minuto em que vemos esses personagens e o material não vai além de atestar como esse fascismo só sobrevive porque se escora em vários outros interesses escusos de gente que não vê problemas em enriquecer às custas do sofrimento de milhares. É um discurso que não sai da superfície do exame do fascismo enquanto fenômeno político ou social, nem aproveita de maneira criativa as possibilidades que a sua aloprada premissa ensejam.

Só com a chegada de Margaret Thatcher (Stella Gonet) no terço final que o filme parece tocar um pouco na maluquice que pode ser pensada a partir da ponto de partida fantasioso do roteiro. A presença a ex-ministra inglesa, no entanto, acaba servindo só como representação metafórica de como foram as potências estrangeiras que “pariram” o fascismo sul-americano, mas não vai muito além disso e da noção de que o fascismo renasce ao nosso redor constantemente.

Apesar de apresentar uma premissa promissora, O Conde se mantém a superfície do comentário político e do humor deixando de levar suas ideias em qualquer direção interessante. É o tipo de filme que talvez ficasse melhor como um curta ou média metragem.

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