Desde que assumiu o comando do Mocotó, fundado por seu pai na Vila Medeiros, bairro da Zona Norte de São Paulo, o chef Rodrigo de Oliveira vem se dedicando a escrever um novo capítulo da história do restaurante de comida sertaneja nordestina.
Depois de mais de 20 anos de determinação e de conquistar diversos prêmios nacionais e internacionais, pode-se dizer, sem sombra de dúvida, que o Mocotó colocou sua cozinha regional – e a periférica Vila Medeiros – no mapa da gastronomia mundial, com centenas de clientes chegando dia e noite, vindos dos quatro cantos da cidade, do Brasil e do mundo, para conhecer as receitas do nosso sertão profundo.
Agora o chef dá mais um importante passo nessa história, anunciando a abertura do segundo Mocotó na cidade. O lugar escolhido foi a Vila Leopoldina, na Zona Oeste paulistana, mais precisamente no gigante complexo da O2 Filmes, que convidou Rodrigo para ocupar o espaço.
Com inauguração prevista para 13 de abril e porta para a rua Aroaba, número 333, o novo Mocotó vai compor a cena do bairro, rodeado pela efervescência cultural que tomou conta da região nos últimos anos. Trata-se de um marco: depois de inaugurar o Mocotó Café no Mercado de Pinheiros, o Balaio IMS no Instituto Moreira Salles e o Mocotó Shopping D, esta será a segunda unidade do Mocotó “de rua” comandada por Rodrigo, com o jeitinho, a cara e o coração sertanejo do primeiríssimo endereço.
Clássicos e novidades com tempero do sertão
Rodrigo conta que, apesar de os dois bairros serem diferentes, eles têm uma coisa em comum: não são escolhas óbvias. E está aí o encanto. “A gente se apaixonou pelo bairro e pelo projeto. Tem um monte de iniciativas legais chegando, arte, pessoas talentosas, criativas. A gente queria estar perto dessa turma”, diz.
E quem espera encontrar na Vila Leopoldina a atmosfera vibrante e informal do primeiro Mocotó já pode se dar por satisfeito. O chef teve o cuidado de colocar o projeto nas mãos de Marino Barros e Rodrigo Leopoldi, da LAB Arquitetos, responsáveis por transformar a casa da Vila Medeiros, que antes crescia “na base dos puxadinhos”, no que é hoje.

Os elementos do Mocotó estarão todos lá, assim como os clássicos do cardápio que conquistaram uma legião de fãs. Entre eles, os dadinhos de tapioca feitos com queijo de coalho da Fazenda Atalaia (pouca gente sabe, mas a receita original do petisco que virou febre nos bares e restaurantes de todo o Brasil foi criação do próprio Rodrigo), os famosos torresmos – aqueles mesmos, crocantes e suculentos ao mesmo tempo -, e a carne-de-sol, preparada com coxão mole de Angus salgado e curado na casa, assado na brasa e finalizado com manteiga de garrafa, pimenta biquinho e alho confitado.
Também chegam à unidade da Zona Oeste o baião-de-dois, a moqueca sertaneja e o pudim de tapioca, criado e afinado em conjunto com dona Lourdes, mãe do chef. E claro que a grande protagonista da mesa do Mocotó não vai faltar: a Mocofava, prato que melhor conta a história do restaurante, combina a receita original de caldo de mocotó de seu Zé a favas cozidas com linguiça defumada, carne seca, bacon e mais “todo o tempero sertanejo” – aquele segredinho ancestral que transporta a gente a milhares de quilômetros de distância, para o luar estrelado do interior de Pernambuco.
Com um pé na tradição e o outro na inventividade, o chef também criou pratos inéditos para o Mocotó da Vila Leopoldina. Bons exemplos são a língua de boi braseada com vinho do Vale do São Francisco, servida com um pãozinho fofo de mandioca com alho, o mouckshouka com ovo, molho de tomate condimentado, pimentão vermelho, iogurte, ovos orgânicos, torresmo ou castanha-do-Pará e o pirarucu frito. O PF do Mocotó – aqui, “Prato Formoso” – também aparece no menu em versões como: o filé de frango à parmegiana gratinado com queijos brasileiros e servido com arroz de cheiro verde e mandioca frita e a do cajueiro, um cozido de caju e vegetais acompanhada de mix de arroz e farofa de coco e castanha de caju.

Outra novidade é a versão própria da torta basca, batizada de Romeo e Juliete, feita com de requeijão-do-norte, goiabada da casa e um toque de vinho; já o mocolé, é um picolé de manga, chocolate branco com matcha e creme de limão siciliano com cachaça.
Como todo cuidado é pouco para colocar uma operação dessas em pé, Rodrigo conta que está levando boa parte da equipe da primeira casa para o novo endereço. A ideia é garantir o funcionamento redondo nesse primeiro momento, que exige atenção constante, mas também promover e dar oportunidade de crescimento a profissionais que estão no Mocotó há muito tempo, ajudando a escrever a história do restaurante.
“Se você me dissesse que chegaríamos a esse ponto 15 anos atrás, eu diria que era improvável. Parecia utópico demais”, ele confidencia. “A cozinha nordestina sertaneja sempre foi muito estigmatizada, ainda mais num restaurante da Zona Norte. É uma baita conquista. Mas nossa grande obra, mais do que conquistar o reconhecimento, foi ter criado essa linguagem muito autoral e universal que fez as pessoas começarem a entender o valor gastronômico dessa comida. Foi a construção de um alfabeto, indo do público local para a cidade, da cidade para o Brasil e do Brasil para o mundo todo”, comemora o chef.
SERVIÇO
Abertura: 13 de abril
Endereço: Rua Aroaba, 333 – Vila Leopoldina
Funcionamento: segunda a domingo, das 11h às 17h
Telefone: (11) 3294-4814
