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Crítica – Eu Sou Vanessa Guillen

Eu tinha ouvido falar por alto do caso Vanessa Guillen, uma militar dos Estados Unidos que foi desapareceu da base militar que servia no interior do país e que semanas depois foi encontrada morta com suspeita de ter sido assassinada e estuprada por colegas de farda. O documentário produzido pela Netflix Eu Sou Vanessa Guillen acompanha a família de Vanessa conforme elas pressionam as autoridades por justiça e mudanças na legislação que rege investigações pertinentes às forças armadas.

Apesar de partir de um crime o documentário é menos sobre o crime em si e mais sobre como a estrutura de poder das forças armadas dos EUA trabalha para ocultar crimes cometidos por militares, que muitas vezes não sofrem qualquer tipo de consequência. Na verdade, o pouco foco no crime se dá pela própria falta de evidências e elementos concretos para se falar dele, já que pouca informação a respeito foi divulgada pelas forças armadas.


Nesse sentido, o filme registra uma dupla violência cometida contra Vanessa, a primeira diz respeito aos crimes em si a segunda ao apagamento desses crimes, negando a ela a justiça e sua humanidade, tratando-a como uma coisa sem valor a ser descartada. O filme ainda resiste a se entregar a especulações sensacionalistas sobre o crime, o que tem sido cada vez mais comum em documentários criminais, se atendo a analisar os fatos conhecidos e jamais fazendo conjecturas baseadas em ilações.

O documentário revela como Vanessa não foi a única a sofrer abusos sexuais dentro de uma base militar dos EUA, trazendo sobreviventes que narram episódios de violência desde a década de 1990 e até hoje as forças armadas do país recusam a reconhecer esse problema em suas fileiras. Mesmo o relatório que o exército divulga com muito atraso sobre as investigações a respeito da morte de Vanessa nega qualquer possibilidade de que tenha sido cometido qualquer abuso sexual contra a soldado.

Além de apontar as estruturas de poder que agem no exército para ocultar esse tipo de crime, o documentário aponta como é longo e trabalhoso o caminho para construir novos dispositivos jurídicos para que o exército possa ser responsabilizado na ocorrência de crimes de natureza sexual. Acompanhando os anos de luta e manifestações da irmã e da mãe de Vanessa, a narrativa mostra como mesmo tendo o apoio de parlamentares de renome elas encontram dificuldade em passar a legislação por conta do lobby das forças armadas junto ao legislativo e à atuação de parlamentares ultraconservadores em barrar esses projetos de lei sob a velha justificativa de que isso interferiria na segurança nacional.

Como mostra o documentário, conseguir qualquer mudança é uma luta a longo prazo que requer determinação e constante mobilização, o que nesse caso só foi possível por conta da resiliência da família de Vanessa e também porque o caso trouxe à tona dezenas de outros casos ignorados pelas autoridades, evidenciando a necessidade de encarar o problema. O episódio de Vanessa é mostrado como um ponto de virada que dá voz a uma demanda por muito tempo silenciada.

Assim Eu Sou Vanessa Guillen apresenta uma consistente denúncia dos abusos cometidos dentro das forças armadas dos EUA e de como a estrutura de poder vigente atua para silenciar esses casos.

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