Quando se é uma criança de 8 anos e ganha mesada, a primeira coisa que a se pensa é: “comprar balas, bombons, chocolate e comer tudo…”. Isso seria o normal para qualquer pessoa na tenra idade. Mas, quando a gente conhece a trajetória da empresária, gestora de moda, eventos e varejo Anna Libório, percebemos que ela estava longe de ser uma criança “normal”.
Pois ela, nessa idade, lá em Petrolina, Pernambuco, utilizava o dinheiro para comprar guloseimas, sim. Mas não para consumo próprio, e sim para vender para amigos, primos e outras crianças. Escondida, pois o pai, o juiz Carlos Libório Neto, e o avô desaprovavam a atitude empreendedora da pequena Anna. “Queria multiplicar o dinheiro e não depender de minha família. Quando eles descobriam, brigavam, colocavam de castigo. Mas eu voltava”, lembra Anna.

Desde então, Anna Libório não parou mais de empreender, trabalhar, cuidar da família e estar sempre pronta a ajudar o próximo. “Sou encantada pela vida. Tenho um coração muito derretido. Exercito tentar dizer ‘não’, mas é muito difícil, ainda não consegui. Tenho uma vontade imensa de cuidar e facilitar a vida do outro”, afirma.
E não é difícil se deixar levar pelas palavras de Anna. Com sua voz suave, sua fala calma, gestos tranquilos e competência comprovadíssima, não é à toa que, quando as coisas dão errado para alguém, a primeira pessoa que pensam para resolver é Libório.

Foi assim quando foi contratada para receber grupos de poderosos empresários, patrocinadores de camarotes no Carnaval baiano. Detalhe: Anna só tinha quatro dias para montar tudo. Claro que aceitou o desafio. “Fui para a feira de São Joaquim e aluguei diversos produtos que remetessem a Bahia, que é muito valorizado lá fora. Fez tanto sucesso que fui lá buscar para devolver e não tinha mais nada. As pessoas levaram como lembranças da Bahia”, sorri com ar de missão cumprida.
“Temos que ser facilitadores de vida, assim tudo flui com leveza e suavidade. A vida devolve o que você emana”
Ilhéus, lembranças de uma adolescência feliz
Nascida em Salvador, Anna percorreu a Bahia por conta do pai juiz. Morou em algumas cidades do interior do Estado – e, como vimos na história da venda de balas, também em uma cidade de Pernambuco. Essa vibe de interior, onde as amizades são bem fortes, explica porque as grandes amigas dela até hoje são as que conheceu quando tinha 6, 10, 17 anos de idade.

A cidade que criou mais vínculo foi a Ilhéus de Jorge Amado, para onde foi quando estava entrando na adolescência. “Ilhéus é um parque de diversão. Fazia windsurf, andava de patins, era uma cidade bela, com o mar maravilhoso, tinha as festas do Cacau. A gente estava quase no centro do mundo, pois a cidade tinha o PIB maior do que o de Salvador na época”, afirma Anna. “Esse vínculo com Ilhéus é o mais forte que tenho na minha memória afetiva”, completa.
Por viver em diversas cidades, Anna também teve muito contato com a natureza. “Me alimento da energia da natureza para ter gás. Preciso me conectar para ter essa força toda do universo. A natureza é meu turbilhão”, destaca. Para isso, reserva os fins de semana para ir para o campo ou a praia.
“Meu pai dizia que a gente tem que saber sentar como uma princesa e montar como uma amazonas. Para nós, mulheres, não sofrermos muito, tínhamos que aprender de tudo. Ele me encorajava muito”
Desbravadora
Quem vê o Caminho das Árvores como o paraíso de quem quer comprar móveis de bom gosto e qualidade hoje em dia, não imagina que ali ainda era um bairro apenas residencial, que estava começando a engatinhar com lojas refinadas. Uma das primeiras a se aventurar por lá foi Anna com a loja Mazotti Móveis. Claro que tudo planejado, pois ela não consegue dar um passo sem estar tudo pensado estrategicamente e cronometrado – inclusive esta nossa conversa tinha hora para acabar: 14h30, pois ela ainda iria gravar um programa para a TV Sebrae e iria para o aniversário de uma amiga. Como a fábrica era no sul do Brasil e havia atrasos na entrega, o que desagradava Libório, ela decidiu encerrar as atividades.
Antes trabalhou em banco por oito anos, onde sempre batia as altas metas que era obrigada a cumprir, mesmo tendo engravidado das filhas Laís e Vitória. “Trabalhava de dia, estudava de noite e ainda era mãe. Nunca gostei de pedir dinheiro, sempre fui independente desde cedo”, diz.
Decidiu deixar o banco na ilusão de que teria mais tempo para a família. Ela abriu a Amazoti e, resolveu ir para a moda, sua grande paixão. Claro que estamos falando de Anna, lembrem-se, ela faz tudo calculado. Começou a fazer cursos de moda, design de interiores para entender de espaço físico, de ergonomia… “Sempre gosto de saber de tudo. Quando posso fazer um curso, vou lá e faço”, afirma Anna, que já fez – e segue fazendo – cursos no Brasil e em Nova York, Paris e Portugal.
“Ninguém valorizava o Caminho das Árvores. Fui a primeira a abrir uma loja lá. Também criei com a Empório Magma o primeiro Natal do Caminho das Árvores”
Ela abriu a conceituada loja, a italiana Francesca Romana Diana, de pedras brasileiras, nos shoppings Barra e Iguatemi (atual Shopping da Bahia). Apesar do sucesso, a proprietária da franquia decidiu acabar com a marca no Brasil. “Foram anos de muitas realizações, muitos eventos no Copacabana Palace, desfiles no São Paulo Fashion Week, um período ótimo profissionalmente para mim”.
Ela então manteve só a loja Lenny Niemeyer, especialista em beachwear, do Shopping Barra. Mas a simpatia e o ótimo gosto de Anna acabavam demandando mais, pois as clientes queriam ser atendidas por ela, ter o lifestyle dela. “Com isso, não tinha tempo para minhas filhas. Elas foram morar no Canadá, casei pela segunda vez e resolvi que também precisava de um tempo para passar algum tempo com elas fora do país ou no Rio de Janeiro com meu marido”, diz.
Em um curso que fez, a empresária descobriu que poderia trabalhar com a marca pessoal, sem equipes grandes, sem tanta complexidade de logística, ela poderia ter um excelente faturamento e trabalhar com o que gosta: com pessoas. “Estou no auge da minha maturidade profissional, escolhendo onde quero estar, com quem trabalhar e fazendo o que eu gosto, que é ser útil”.
Ela atua ministrando cursos sobre visual merchandising e motivando empreendedores no Sebra-Bahia. Também cuida da abertura de lojas desde o início. Presta consultoria individual a lojistas que querem treinar a equipe e empresários que desejam investir em Salvador. “Se alguém quiser abrir um negócio e me procurar, vou fazer um diagnóstico e dizer se é viável em Salvador, qual bairro seria melhor para o público que quer atingir, vejo equipe, metragem da loja e muito mais. É um trabalho completo”, explica.
Um 2023 com mais calmaria
Anna é uma pessoa diurna. Gosta de sol, praia, mar, fazenda e tudo ligado à natureza. Se divide entre Salvador e Rio de Janeiro, onde o marido Ricardo Almeida mora atualmente, e Canadá, onde as filhas vivem. Ambas bem encaminhadas. Laís trabalha com animação em uma produtora que faz filmes para Netflix e HBO e Vivi faz faculdade de Turismo.
Ainda tem que dar conta dos trabalhos que preenchem seu dia – menos o início da manhã, hora em que ela faz questão de tirar um tempo só para ela. Ainda faz trabalho voluntários e vai à missa duas vezes por semana para manter a paz interior.
“Quando a mente da gente é flexível, as coisas também são. A gente acaba transitando por todos os lugares com tranquilidade”
Olhando para o passado, Anna Libório nunca duvidou que chegaria onde chegou. “Sou uma mulher realizada. Sempre achei que minhas coisas dariam certo. Tenho um nível de exigência muito alto, por isso me dedico a tudo que me proponho a fazer. Tudo é estudado”, diz.
Mas, em 2023, ela planeja dar uma reduzida, passando mais tempo no Rio de Janeiro e no Canadá, além de se dedicar mais ao voluntariado. Depois de conhecê-la, não tenho dúvidas de que Anna Libório ainda vai conquistar muita coisa – e dificilmente vai conseguir reduzir o ritmo como planeja para 2023. Ela, claramente, é movida a desafios.
