Das cozinhas para o mundo das bebidas. Essa foi a trajetória da gastrônoma e sommelière de cerveja Francesca Sanci, que acaba de lançar “O Livro da Cerveja” (Ed. Intrínseca, 272 páginas, R$ 99,90). Assim como a simplicidade do título, a obra leva o leitor – de forma direta, com infográficos explicativos – ao mundo da cerveja, em uma viagem prazerosa e saborosa pelo mundo da bebida.
Desde seus ingredientes até as harmonizações, passando pela história. “A proposta deste guia é trazer exatamente isso: informação, mas de maneira prática, objetiva, direta e sem “fru-fru'”, diz a autora logo na apresentação. E ela consegue atingir seu objetivo. Até a melhor tipo de cerveja para acompanhar um delicioso acarajé ela colocou. Mas não vou revelar para não estragar a surpresa e você ir correndo comprar o livro.
Como não poderia deixar de ser, o guia também explica as diferenças entre as escolas cervejeiras germânica, belga, britânica e americana – apesar de que essa classificação rende uma grande discussão, segundo a autora. “A gente tem essa divisão, mas é a título de estudo. Esses países da escola possuem a cerveja como algum cultural, que faz parte do dia a dia deles há muito tempo”, explica, em entrevista concedida ao Bahia Social Vip.
E, talvez, no futuro, poderia haver uma escola brasileira? “Ainda falta muito chão, pois a bebida não faz parte da nossa cultura, ainda, como a cachaça, por exemplo. Mas temos madeira, como a amburana cearense, que faz barril cervejeiro, e muitos biomas e insumos. O Brasil pode se tornar uma escola cervejeira, mas não agora”, afirma Francesca, destacando que já é uma evolução a produção de lúpulos brasileiros e o estilo Catharina Sour, tipicamente brasileiro, com aroma frutado.
“A Colorado lançou cerveja com mandioca, maracujá… em São Paulo temos cerveja com cambuci, uma fruta local. Cada região consegue fazer algo único, isso ajuda a criar algo tipicamente brasileiro.”
Francesca Sanci
Enquanto não “fermenta” sua escola, o Brasil se inspira na germânica, com pilsens e cervejas de trigo, e, principalmente na americana, com lúpulo exagerado e amargor intenso. Esse é um dos fatores que a American IPA (India Pale Ale) faz tanto sucesso por aqui. “A IPA tem essa complexidade, tem essa potência de sabor. O lúpulo age como tempero. São cervejas com bastante personalidade, além do amargor. Acredito que seja por isso que faz sucesso: a questão da personalidade e da complexidade”, diz Francesca.
Gosto de gambá e suor
Uma das inúmeras surpresas do livro – que é uma aula sobre cerveja – foi que um dos sabores da cerveja é a lightstruck, também conhecida como gosto de gambá e suor – e é “tolerável”.
Para piorar, uma das minhas cervejas preferidas, a Heineken, faz parte dessa categoria. “É um aroma com uns defeitos que associamos ao gambá. Só que a Heineken criou algum muito único e todo mundo gosta”, afirma.
A garrafa clara, fazendo com que a luz solar entre em contato facilmente com o líquido, é um dos fatores que leva a cerveja a ter esse sabor e odor, por isso a maioria é escura. “Se pegarmos uma Skol ou Corona e colocarmos para gelar após deixar no sol, ela terá o gosto de uma Heineken”, diz Sanci. Claro que o sabor será igual ao da cerveja nas devidas proporções, não vá tentar fazer isso em casa e depois comentar na matéria que não funcionou, hein?
Duas cervejarias baianas com destaques nacional e internacional, a Mindubier e a Proa, ficaram de fora de um mapa com exemplos de cervejarias, mas Francesca disse que foi falta de espaço na diagramação do livro, o que deixou outras inúmeras cervejarias de fora. “Mas vamos criar um site em que vamos mapear todas, já que são mais de mil espalhadas pelo país”, garante a gastrônoma.
Ao final da jornada literária, ainda há diversas harmonizações com as receitas de alguns pratos para degustar a “gelada”.
