Ativista feminista premiada, Caroline Criado Perez apresenta uma abordagem inovadora ao lançar luz sobre a desigualdade sistêmica entre mulheres e homens oriunda do desprezo pelos dados de gênero. “Mulheres invisíveis”, que chega às livrarias em outubro pela Intrínseca, é um contundente alerta para essa questão que prejudica as mulheres em todos os âmbitos. Embora amplamente difundido como a base da melhoria da nossa qualidade de vida, o caráter científico dos dados esconde um lado perverso: as mulheres não são — e nunca foram — contempladas por eles.
Nesta obra, a autora reúne estudos de caso que explicitam como a coleta e o uso dos dados, responsáveis por moldar nosso dia a dia, tem contribuído para a manutenção do privilégio masculino. Desde tremer de frio no escritório devido ao ar-condicionado ajustado para o padrão do corpo masculino a ter um ataque cardíaco não diagnosticado porque os sintomas são considerados atípicos, as mulheres são alvo do descaso em relação às suas particularidades. Segundo Caroline, “a exclusão da perspectiva feminina é uma das grandes causas do viés masculino que tenta (muitas vezes de boa-fé) se passar como ‘neutralidade de gênero’. É a isso que Simone de Beauvoir se refere quando diz que os homens confundem o próprio ponto de vista com a verdade absoluta”.
Para demonstrar sua tese, Perez também se arma de dados. Por exemplo, demonstra que uma mulher tem 47% mais chances de sair gravemente ferida de um acidente de carro — isso porque, ao longo da história, o corpo masculino foi usado como referência ergonômica para os parâmetros de segurança em veículos automotores.
No decorrer da análise, três temas são recorrentes: o corpo feminino, a carga de trabalho feminino não remunerado e a violência masculina contra mulheres. A pesquisadora sustenta que esses são assuntos de tamanha importância que afetam quase todos os aspectos de nossa vida, desde o transporte público até a política, passando pelo ambiente de trabalho e pelo consultório médico.
A autora coloca em números o sofrimento de metade da humanidade, provando que o preconceito de gênero é muito mais que uma questão subjetiva. Apontada pelo Times como uma obra que mistura “Simone de Beauvoir com dados”, Mulheres invisíveis foi publicado em 2019 e traduzido para 30 idiomas, recebendo naquele ano os prêmios Royal Society Science Book, Books Are My Bag Readers Choice e Financial Times Business Book of the Year.