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Crítica – Argentina, 1985

Não é possível que uma nação supere traumas coletivos, genocídios ou períodos autoritários sem encarar esses problemas de frente e lidar com as responsabilidades. O Brasil nunca passou a limpo sua ditadura cívico-militar (não passamos nem o período escravocrata) e, talvez, por essa omissão tenham emergido atualmente novas figuras golpistas saudosas do autoritarismo de outrora. A Argentina, por outro lado, entendeu que sem o resgate da memória das vítimas e o enfrentamento dos responsáveis por sua sangrenta ditadura militar não seria possível mirar o futuro. É sobre o processo criminal dos generais responsáveis pelo período ditatorial do país que este Argentina, 1985 (que chega aqui via Prime Video) irá se debruçar.

A narrativa é baseada na história real do promotor Julio Strassera (Ricardo Darín) que foi incumbido pelo governo Argentino para montar um caso criminal em um tribunal civil contra os generais que encabeçaram o genocídio do período ditatorial do país. Com apenas cinco meses até o início do julgamento, Strassera monta uma equipe de jovens promotores para correrem contra o tempo e montarem um caso sólido, já que o fracasso implicará na absolvição dos ditadores.


O filme reconta os processos, com testemunhos de sobreviventes que descrevem de maneira bastante explícita a desumanidade das torturas e até abusos sexuais perpetrados nos porões da ditadura argentina. Nesse sentido acaba sendo um drama jurídico que segue de perto todos os elementos típicos do gênero. Os executa muito bem, é verdade, mas fica a impressão de que adere demais ao formato e arrisca pouco em nos deixar imersos na subjetividade dos sobreviventes ou daqueles que perderam entes queridos durante o período.

Além de explicitar bem a natureza desumana do estado de exceção vivido na ditadura argentina, com prisões arbitrárias e execuções sumárias que ignoravam o devido processo legal, o filme é eficiente em nos fazer entender o clima político e social da Argentina. O temor em melindrar os militares levando a considerar até acordos com eles é visto nas interações de Julio com seus superiores. A disposição dos militares em fazer qualquer coisa para evitarem cadeia é comunicada pelas constantes ameaças sofridas por Julio e sua família. Já o arco de Luiz Ocampo (Peter Lanzani), que contraria sua família tradicional para auxiliar Strassera, trabalha a importância de tornar público os crimes ocultos de uma ditadura, já que mãe de Ocampo eventualmente pede perdão a ele depois de ver as fartas evidências contra os generais durante o julgamento.

Dessa maneira, o filme evidencia como esse tipo de processo não é meramente uma questão de revanchismo. Trata-se, na verdade, de um serviço público de registro, preservação e divulgação da memória desse genocídio para que o público entenda a gravidade do que foi feito e como foi feito, permitindo que esse conhecimento histórico torne possível evitar que algo assim volte a acontecer. Nesse sentido, é impossível ignorar a força da catarse que vem quando Strassera lê suas considerações finais e crava a necessidade de condenação dos generais pelos crimes cometidos, relembrando a importância do devido processo legal em uma sociedade civilizada e como a punição desses crimes é necessária para que a nação possa se reconstruir.

Argentina, 1985 é um consistente exame do processo que condenou os generais responsáveis por crimes durante a ditadura militar argentina, lembrando a importância de trazer os crimes de regimes autoritários para a luz.

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