Fim de ano é tempo de se planejar para o futuro e escolher prioridades para o novo ano que se aproxima. Para muitas mulheres, é hora de decidir quais projetos serão colocados em prática diante de tantas possibilidades.
A maior presença feminina no mercado de trabalho, ocupando postos de gestão e comando; aliado à capacitação também crescente, se refletiu num dado importante de analisar: 2021 representou um dos anos de maior crescimento na taxa de congelamento de óvulos no país. “Além de todos esses fatores de autodesenvolvimento das mulheres, a pandemia do coronavírus também influenciou, fazendo com que muitas resolvessem preservar sua fertilidade para esperar um momento mais oportuno de decidir sobre a maternidade”, explica a biomédica e coordenadora do Laboratório de FIV do IVI Salvador, Daniele Freitas.
Vale lembrar que um artigo publicado pela revista norte americana Time mostrou que por conta da pandemia, cresceu em 50% nos Estados Unidos, o número de congelamentos de óvulos em comparação com 2019 e 2020. No Brasil, estima-se que o crescimento tenha sido semelhante. Mas é bom ressaltar que já entre 2018 e 2019, essa taxa já havia crescido 11% para congelamentos de óvulos, segundo o levantamento anual do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a ANVISA. Ou seja, congelar óvulos se tornou uma espécie de “segurança” para muitas mulheres.
Diante dos números crescentes e de muitas dúvidas que ainda surgem sobre o tema, a biomédica explica detalhes, mitos e verdades sobre o procedimento.
Uma verdade e muitos mitos
Congelar os óvulos é um procedimento invasivo? Verdade. O procedimento é simples e feito em estrutura de day hospital no dia da coleta, com alta menos de 2 horas depois. Mas é sim um procedimento invasivo, já que é necessário extrair os óvulos por meio da aspiração folicular, com apoio de um ultrassom transvaginal. “Mas o procedimento em si – que é indolor – é a finalização de um processo que começa com exames e com o uso de alguns medicamentos que estimulam a maior produção ovariana”, conta Daniele. Normalmente a coleta ocorre cerca de 12 dias após o uso dos medicamentos.
Existem contraindicações para congelar óvulos? Mito. Além de ser um artifício para preservar a fertilidade, para mulheres que ainda não pensaram sobre a maternidade, o congelamento ajuda ainda àquelas que vão iniciar tratamentos contra o câncer ou outras doenças que exijam tratamentos com medicamentos mais pesados e que podem comprometer a fertilidade; ou ainda aquelas que descobrem endometriose, por exemplo. “De modo geral, todas as mulheres podem realizar o procedimento para congelamento de óvulos sim. Mas é necessário realizar exames e verificar como está a saúde delas, como em qualquer outro tipo de tratamento”, explica.
Há um limite de idade para o congelamento de óvulos? Mito. “Não existe um limite de idade, mas a gente sempre alerta que quanto mais jovem for o óvulo, melhor. Sabemos que a idade altera não apenas a quantidade da reserva ovariana das mulheres mas também a qualidade. Por isso, a gente orienta que mulheres na faixa dos 35 anos já se preocupem com isso”, conta.
Os óvulos congelados possuem prazo de validade? Mito. Não existe um limite de tempo para que a paciente mantenha seus óvulos congelados. E quando forem descongelados, eles terão praticamente as mesmas características da época em que foram coletados. “A medicina reprodutiva tem avançado muito e todos os anos surgem novidades nesse sentido. Técnicas que ajudam a aumentar ainda mais a vida útil do material congelado e formas de descongelamento mais efetivas”, diz. Daniele salienta que, mesmo tendo congelado óvulos, caso a mulher desista de ser mãe ou consiga engravidar naturalmente, é ela quem define o destino dos seus óvulos, que podem ser descartados ou doados para ajudar outras mulheres e casais.
O congelamento garante o sucesso da gravidez? Mito. O congelamento oferece às mulheres a possibilidade de postergar o planejamento sobre a gestação. “Já que nascemos com uma quantidade definida de óvulos e eles vão sendo eliminados e reduzindo a qualidade ao longo da nossa vida; o que o congelamento faz é preservar essa capacidade reprodutiva para quando a gente entenda que chegou a hora”, conta. Depois de descongelado e fecundado, o embrião é transferido e o processo da gravidez ocorre como qualquer outro. Lógico que as chances de sucesso através de técnicas de reprodução assistida têm crescido ano após ano.