Originalmente programada para 2020, as Olimpíadas de Tóquio aconteceram em 2021 por conta da pandemia do COVID-19 e o tema da saúde mental dos atletas acabou sendo um tema evidenciado na competição por conta de posicionamentos de atletas como Simone Biles e Naomi Osaka. O documentário O Peso do Ouro, produzido pela HBO no final de 2020, parecia já antecipar essas discussões.
Com uma narração do multi-medalhista Michael Phelps, a produção entrevista diferentes atletas olímpicos que falam sobre os problemas de saúde mental que tiveram ao longo da carreira ou que observaram em seus colegas, incluindo o suicídio de vários atletas olímpicos. É um documentário bem típico em termos de formato, com entrevistas e imagens de arquivo, mas consegue ter impacto por causa do teor dos relatos dos atletas que retratam momentos de depressão pelas constantes cobranças e pressão, seja de si mesmos, da família, dos treinadores ou da mídia. São testemunhos fortes, que não recomendo serem ouvidos por pessoas que estejam passando por situações parecidas.
Essas falas ajudam a humanizar os atletas e a quebrar o estigma de que falar se saúde mental é sinal de fraqueza (basta ver a quantidade de palpiteiros que usaram esse adjetivo para falar de Simone Biles na última Olimpíada) e mostrar como a pressão constante os afeta. Os depoimentos também revelam a precariedade das políticas de fomento ao esporte dos EUA, quebrando a noção de que esses esportistas são multimilionários e mostrando que a maioria dos atletas olímpicos sequer tem auxílio o suficiente para cobrir as despesas básicas, obrigando vários deles a obterem outros empregos para pagarem as contas. A estrutura de financiamento também influencia na relação com os treinadores, já que eles precisam de atletas que rendam vitórias para continuar sendo financiados, tratando esses indivíduos mais como fonte de renda do que seres humanos.
Os depoimentos mostram que mesmo medalhistas de ouro não conseguem grandes contratos depois de suas vitórias, exceto aqueles de esportes de grande destaque, como o próprio Phelps, com as preocupações financeiras sendo outro elemento de constante pressão sobre eles. Os efeitos da cobertura midiática sobre eles também são abordados, em especial como um pequeno erro pode tomar grandes proporções na cobertura esportiva e destruir uma carreira. A precariedade na estrutura de fomento ao esporte também não fornece qualquer tipo de apoio psicológico aos atletas, algo que os múltiplos suicídios narrados no filme demonstram ser necessário.
A curta duração, com cerca de uma hora, impede que qualquer um desses temas complexos seja explorado muito a fundo, fazendo o filme funcionar mais como um (necessário) início para esse debate, do que um exame mais aprofundado sobre essas questões. Por outro lado, dada a estrutura excessivamente convencional, a concisão do produto impede que ele caia no marasmo.
Assim, O Peso do Ouro traz reflexões importantes sobre a necessidade de tratarmos de problemas de saúde mental nos esportes, ainda que se apoie em uma estrutura lugar-comum e não tenha muito tempo para examinar à fundo seus temas.