Perfil

Chef Tereza Paim: dos bytes à culinária

Há 20 anos, os colegas de trabalho nem imaginavam que aquela mulher que tinha um importante cargo na área de TI de uma grande empresa de telecomunicações, entre bytes e relatórios, iria mudar o rumo da vida. Um rumo que a renomada chef Tereza Paim deu ao trocar um trabalho certo e consolidado pela culinária.

“Nunca sonhei em ser cozinheira, já que a gente não era estimulada a isso. Pensava em vir para a capital e ser advogada, médica, engenheira… tinha essa “missão” predeterminada de quem sai do interior e vem para a capital: virar “doutora””, lembra Tereza.

E assim veio de Tanquinho, a 155km de Salvador, para a capital aos 13 anos, se formando aos 21 em Ciências da Computação, onde trabalhou por 20 anos até largar tudo e se dedicar exclusivamente a cozinha. “Diziam que o mundo ia se acabar no ano 2000, mas como não acabou, resolvi mudar minha vida (risos)”.

Mas, determinada do jeito que é, Tereza Paim buscou fazer cursos e se especializar. Como já cozinhava, foi mais fácil dominar o que aprendia, ainda mais atuando com planejamento e implantação de grandes estruturas de tecnologia.

“Carreira você não perde, edifica. Não importa o caminho que você siga, se planejou e estudou, consegue. E cozinha é uma arte com muita ciência e muita tecnologia associada”

Tereza rodou o mundo para estudar culinária: Madri, Portugal… e se inspirou em chefs como a mineira Mônica Rangel e o português Vitor Sobral. Encontrou no chef francês Laurent Suaudeau um grande mestre. “Ele é um chef muito técnico, que me ajudou muito quando comecei a fazer grandes eventos”.

Paim tinha uma certeza: era comida baiana que ela queria fazer. No primeiro dia de aula com Laurent, ele perguntou a cada aluno o que eles buscavam ali. “Vim aprender porque vou abrir um restaurante de comida baiana na Bahia, um restaurante muito chique, muito bacana”, afirmou com convicção Tereza, que atingiu o objetivo dela ao abrir seu primeiro restaurante, o Terreiro da Bahia, na Praia do Forte, em 2002. Antes, abriu um buffet para fazer eventos.

Quanto mais gente, melhor

Quando era criança, Tereza “peruava” no posto do pai, seu Cristovão, em Tanquinho. Fazia de tudo lá: ficava no balcão, ia para a cozinha ajudar, fazia biscoito e doce, não parava quieta. A vida da família orbitava no posto, já que eles moravam do lado e dona Zenilda, a mãe de Tereza, também trabalhava lá.

Com o movimento incessante de caminhoneiros e clientes no posto, Tereza tomou gosto por fazer grandes refeições, para um público grande. Ela fazia todas as receitas que vinham encartadas em uma revista mensal chamada Desfile – que era de moda, e Tereza gostava de costurar, ajudando até a única costureira de Tanquinho. “Gosto de fazer coisas de volume. Sempre vivi isso no posto de gasolina. Era muita gente que ia lá”, lembra Paim.

Então, nada mais natural do que o primeiro evento que ela fez na nova profissão tenha sido um réveillon para mil pessoas. “Quando olho para trás e lembro disso, penso: ‘que pessoa louca, desajuizada total, inconsequente”, disse. A cozinha era aberta, em um grande balcão, onde os convidados viam a cozinha “viva”, em pleno funcionamento.

Foi só o começo. De lá para cá, Tereza comandou a cozinha de grandes festas e camarotes pelo Brasil. Além disso, já percorreu o país de norte a sul cozinhando para multidões. Participou de eventos para mais de 4 mil pessoas em diversas cidades. “Se me chamar, eu vou. Não tenho medo de trabalho, não tenho medo de nada. Me jogo e as coisas acontecem”.

Esportista

E chamaram Tereza Paim para disputar o Campeonato Brasileiro de Canoagem – esporte que ela começou a praticar ano passado. A equipe dela é formada por seis pessoas, de todo o Brasil, com mais de 60 anos e já vai buscar o título em novembro. E o que ela respondeu? “Vumbora”.

Além das atividades culinárias, ela agora acrescentou musculação para se preparar para a competição. Tereza ainda pedala, veleja, corre.. “Foi uma virada dessa pandemia, passei a me dedicar mais ao esporte. Tenho muita resistência porque já participei de maratonas. Então para mim é mais fácil adaptar.”, afirmou.

Ela conta com seus inseparável colar de licuri para dar a energia que precisa durante as atividades físicas. “É um superalimento, é chamado de ‘viagra do Sertão'”, destacou Tereza.

Casa de Tereza

Com apenas 9 anos, o restaurante Casa de Tereza já é um dos points da culinária de Salvador. Seja por sua belíssima decoração, seja pela comida inigualável que é servida ali. Quem vê de fora aquela porta e uma entrada pequena, não imagina o tamanho que é por dentro, parecendo até casas de desenho animado, onde, por fora, parece pequeno, mas dentro é um mundo à parte.

Tereza recebe de artistas a pessoas comuns em seu restaurante. E trata todos da mesma forma. Quem chega ao Casa de Tereza pode ter certeza que terá tratamento único, de muita qualidade.

“Valorizo muito quem vem aqui. Sei que tem gente que se esforça para vir, e isso me deixa muito feliz. Todo mundo é igual, pode ser famoso ou desconhecido. Só tô aqui para cumprir a missão que Deus me deu com amor, com vontade. Me sinto honrada de ter sido escolhida para isso”

Ainda autora de “Na Mesa da Baiana” e co-autora de outros vários livros da cozinha Brasileira, Tereza é “imparável”. “Estou sempre em processo de melhoria, de mudança e transformação. Sou uma pessoa feliz, sempre fui.”

Com três filhos (Carol, Aline e João Paulo) e cinco netos (Dudu, Rafa, Gui, João e Maria Tereza), Tereza ainda comanda o Mesa de Tereza, nos Aeroportos de Salvador e Fortaleza. Se prepara para lançar seu segundo livro, que vai contar a história da Bahia através da culinária.

No fim das contas, as telecomunicações do Brasil perdeu uma grande profissional, mas o mundo ganhou uma excelente chef, que encanta a todos por onde passa, com seu sorriso único e agregador.

2 Comments

  1. Rosana

    8 de outubro de 2021 at 22:26

    Tereza é tudo isso e mais um pouco!!! Exemplo de profissional, mãe, amiga, avó… Que Deus sempre a abençoe e proteja por onde “andar”. Amo muito!!!❤

  2. Pingback: Bahia Social Vip - O melhor da Bahia em destaque Festival Tempero no Forte comemora 15 edições em Praia do Forte com o tema ‘Pimenta’

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