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Crítica – Val

O ator Val Kilmer teve um grande momento de estrelato nos anos 80 e 90 protagonizando filmes como Top Gun (1986), Tombstone (1993) ou Batman Eternamente (1995), mas com o tempo ele começou a se afastar de grandes produções. Uma série de fracassos combinados com a fama de que ele era difícil de trabalhar foram colocando o ator longe de Hollywood. Quando ele parecia ensaiar um grande retorno descobriu um câncer de garganta que o deixou sem voz e limitou suas possibilidades de atuar. É uma trajetória complexa e que o próprio ator analisa com um corajoso desprendimento neste Val, documentário de cunho autobiográfico sobre ator que está disponível via Prime Video.

A narrativa é relativamente linear acompanhando a história de Kilmer desde a infância em uma narração que é feita por um dos filhos do ator a partir de um texto escrito pelo próprio Val Kilmer. Em paralelo com essas rememorações, acompanhamos o cotidiano presente do ator, conforme ele faz turnês por eventos e convenções como sua principal fonte de renda.


O ator reconta sua trajetória com um texto bastante introspectivo, quase de natureza ensaística, acompanhando seu fluxo de pensamento e de memória quase que sem filtro, deixando o público ouvir essas impressões que parecem imediatas sobre seu passado. A essas rememorações são acrescidas imagens de arquivo que vem desde a infância de Kilmer quando ele e os irmãos ganharam uma filmadora dos pais e desde então o ator sempre filmou seu cotidiano de maneira recorrente.

Esse imenso volume de imagens de arquivo é um dos grandes trunfos da produção, sempre capaz de ilustrar qualquer momento da vida do ator, inclusive de bastidores de gravações, trazendo imagens nunca vistas de Kilmer durante as filmagens de Top Gun (1986), The Doors (1991) ou A Ilha Do Dr Moreau (1996) ao lado de companheiros de cena como Kelly McGyllis ou Marlon Brando. Isso nos permite penetrar na intimidade de Kilmer, vê-lo para além da figura midiática e percebê-lo como era em suas interações com a família ou no ambiente de trabalho.

Ao longo do filme Kilmer desnuda suas inspirações para atuar, algo que vem desde a infância e da relação com os irmãos, o que o movia como artista, seus problemas com a indústria e o tipo de filmes que seus agentes ou outras instâncias institucionais queriam que ele fizesse, seus traumas e também suas falhas. Seria fácil para o autor deixar passar seus problemas, evitar mencionar os problemas de seu casamento e como sua ausência como marido inevitavelmente levou ao divórcio, relativizar traumas como a morte precoce de um dos irmãos ou o fato do pai ter tentado sonegar impostos usando o nome de Val como fachada, mas Kilmer expõe suas dores e falhas com uma coragem e desprendimento que raramente vemos uma grande figura de Hollywood fazer.

Mesmo a questão da doença e a atual situação financeira de Kilmer nunca são expostas em um tom de sensacionalismo, de querer forçar nossa comiseração pelos problemas dele, mas numa tentativa de nos fazer entender o estado em que ele se encontra atualmente. Nesse sentido, Kilmer exibe muita consciência de que sua carreira nunca será como antes e, de certa forma, aceita que participar desse circuito de convenções e eventos de fãs provavelmente serão suas principais fontes de renda. Ele chega a comentar isso em dado momento, dizendo que muitas pessoas veem isso como uma decadência na vida de um ator, no entanto, Kilmer tenta enxergar algo de positivo em tudo isso, celebrando essa conexão que pode ter com os fãs e o afeto que recebe deles.

Esse tipo de documentário sobre grandes figuras da indústria do entretenimento costuma render produtos com alguma verve publicitária. Isso não ocorre em Val, que de fato se esforça para nos fazer entender que é o sujeito biografado, desvelando sua intimidade, despindo-o do glamour, desnudando suas fragilidades e, por consequência, nos apresentando à humanidade por trás da imagem midiática em torno do indivíduo. É raro que uma produção dessa natureza penetre tão fundo nas nuances de seu biografado.

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