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Crítica – Selva Trágica

O realismo fantástico é bem comum na literatura latino-americana e o cinema dos países dessa região constantemente bebe nessa fonte. Este Selva Trágica, co-produção entre México, Colômbia e França que chegou na Netflix, se vale de uma estrutura de realismo fantástico para contar um história que dialoga com a mitologia maia.

Na trama, Agnes (Indira Rubie Andrewin) é uma mulher que foge de um casamento arranjado atravessando a fronteira de Belize para o México se embrenhando na selva maia. Enquanto é caçada por homens britânicos, Agnes encontra um grupo de seringueiros fazendo goma a partir da seiva das árvores. Ela se refugia com eles tentando evadir seus perseguidores, mas coisas estranhas começam a acontecer e a jovem demonstra ser mais do que apenas uma mulher indefesa.

A maneira como a diretora Yulene Olaizola filma a selva confere um clima de mistério ao lugar ao mesmo tempo em que dá a ele uma dimensão esplendorosa e presta reverência à imensidão verde do lugar. Ela olha para essas paisagens e eventos sem pressa, com a trama se desenvolvendo em um ritmo bem deliberado, mas provida de uma atmosfera de estranhamento e deslumbre sempre presente. Essa reverência à natureza e a noção de que talvez o homem não deveria interferir tanto nela é reforçada pelas narrações no idioma maia que intercalam algumas cenas. Essas narrações contam a história de Xtabay, uma espécie de espírito da floresta de aparência feminina que atrai os homens e os faz se perderem pela selva.


De início essas narrações parecem apenas adicionar uma atmosfera de misticismo ao lugar, mas são essenciais para entender o que acontece no filme. O modo como Agnes se envolve aos poucos com cada um desses homens, levando-os para a floresta para transar apenas para que eles desapareçam ou sejam encontrados mortos no dia seguinte remete justamente ao modo como Xtabay opera. Isso contribui para a sensação de suspense. Afinal, Agnes é apenas uma mulher desesperada lutando pela própria sobrevivência ou é uma entidade sobrenatural de alguma maneira punindo aqueles homens?

A trama pode ser lida de diferentes maneiras. De um modo literal a protagonista está acabando com todos os homens que tentam tirar vantagem dela. Dos britânicos que desejavam forçá-la a um casamento arranjado, dos seringueiros que a abrigam para obter algum benefício, seja sexo ou negociá-la com os britânicos. Metaforicamente pode ser entendido como essa entidade sobrenatural atacando o homem por interferir na natureza, por explorar e invadir um território que não lhe pertence. Uma das narrações até diz que Ixtabay usa o que tem no coração dos homens contra eles mesmos, ou seja, a lascívia, a ganância, a violência desses homens é estimulada pela entidade apenas que depois tudo se volte contra eles.

Boa parte da atmosfera do mistério e da tensão vem do trabalho de Indira Rubie Andrewin. Mesmo Agnes falando muito pouco, Andrewin é uma presença magnética em cena, com um olhar envolvente que torna compreensível a facilidade dela de encantar os homens e também confere a Agnes uma dimensão impenetrável, enigmática. Um olhar que parece esconder uma série de motivações ou talvez a sabedoria ancestral de uma entidade sobrenatural. Como uma esfinge, ela devora aqueles que se aproximam dela incapazes de compreender seus mistérios.

Talvez a progressão lenta da trama afaste alguns espectadores, mas Selva Trágica constrói muito bem sua atmosfera de suspense e resulta em um envolvente conto sobre os mistérios perigosos da floresta maia e as consequências que pendem sobre aqueles tentam descuidadamente caminhar por seu território.

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