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Crítica – O Alienista: Anjo das Trevas

Quando escrevi sobre a primeira temporada de O Alienista falei que era uma narrativa policial competente, ainda que bastante presa às convenções do gênero. Essa segunda temporada, O Alienista: Anjo das Trevas, segue um pouco os resultados do ano de estreia, com um mistério envolvente, ainda que bastante aderente aos lugares comuns desse tipo de narrativa.

A trama se passa na Nova Iorque no final do século XIX durante o auge da guerra hispano-americana. Laszlo (Daniel Bruhl), John (Luke Evans) e Sara (Dakota Fanning) voltam a trabalhar juntos para impedir a execução de uma mulher que julgam ter sido condenada injustamente de ter matado o próprio bebê, sendo que o corpo nunca foi encontrado. O trio não consegue deter a execução, mas pouco tempo depois o corpo da criança é encontrado e Laszlo encontra provas suficientes para demonstrar que a real culpada ainda está à solta. As coisas se agravam quando o bebê de um dignitário espanhol é sequestrado e as autoridades nada fazem. A senhora Linares (Bruna Cusí), esposa do diplomata, acaba contratando Sara para resolver o caso. Logicamente a investigadora recorre também a John e Laszlo.

Assim como na primeira temporada, a ambientação no passado é usada também para falar do presente. O arco de Sara continua a ser usado para falar do machismo daquela sociedade, com a investigadora não sendo levada a sério pela polícia local ou outros com quem interage. A investigação sobre o sequestro dos bebês também mostra toda uma rede de abuso de mulheres perpetradas por homens poderosos e médicos sem escrúpulos. Esses homens em posições de poder pagavam médicos para fazerem os partos de suas amantes e depois dizer a elas que as crianças morreram no parto, esterilizando as mulheres contra a vontade delas. Toda a trama revela como as mulheres eram tratadas como objetos, sendo descartadas pelos homens no momento em que se tornavam inconvenientes e internadas como loucas se causassem problemas.

O pano de fundo da guerra hispano-americana é usado para falar do preconceito e da xenofobia nos Estados Unidos, com a família Linares sendo ignorada e tratada com suspeita pelas autoridades apenas por sua origem, como se fossem automaticamente criminosos. Há uma clara tentativa de fazer um paralelo entre os espanhóis desse período e a população latina da contemporaneidade, mas esse paralelo não é totalmente eficiente. A Espanha nesse momento histórico ainda era uma potência colonial, muito diferente dos imigrantes em situação de vulnerabilidade que cruzam as fronteiras hoje.

Apesar de ter um arco envolvendo o tratamento de um jovem paciente e o surgimento de um novo interesse romântico, o texto continua a fazer de Laszlo um detetive bem prototípico e razoavelmente similar a tantos outros do gênero que se baseiam no arquétipo sherlockiano. É curioso, inclusive, que o interesse romântico do personagem seja interpretado pela mesma Lara Pulver que interpretou Irene Adler na série Sherlock.

Já John é pego em um triângulo amoroso entre sua noiva, Violet (Emily Barber), filha do poderoso magnata William Randolph Hearst (Matt Letscher) e o sentimento que ainda nutre por Sara. Esse triângulo também coloca o jornalista numa encruzilhada moral entre fazer o que é certo ao lado de Sara e Laszlo ou se conformar aos padrões e conveniências da alta sociedade para ser aceito por eles. O arco dele reverbera ideias da primeira temporada de como a sociedade é governada por uma elite intolerante com padrões hipócritas de moralidade que exclui e destrói quem não se conforma a eles.

A revelação da culpada pelos sequestros e mortes de bebês acerta ao dar complexidade a essa personagem, tratando-a não como uma mera louca violenta, mas alguém que foi levada a extremos por anos de violência (física e psicológica) sofrida. O texto não alivia a severidade dos crimes que ela cometeu, mas reconhece que ela se tornou instável e violenta por consequência dos abusos sofridos. Ela seria, portanto, o produto de uma sociedade que trata mulheres como objetos descartáveis, levada a extremos por conta dos abusos aos quais foi submetida.

O Alienista: Anjo das Trevas continua a oferecer uma trama investigativa bastante convencional, mas consegue manejar com competência a intriga e o suspense para fazer valer a experiência.

7 /10
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