Connect with us

Olá, o que você está procurando?

Streaming

Crítica – O Diabo de Cada Dia

Fiquei curioso para conferir este O Diabo de Cada Dia, produção original da Netflix, por trazer o ator Tom Holland em um tipo de personagem que é bem diferente de tudo que ele fez em sua carreira até aqui. Podia ser um ponto de virada para o ator, mas embora o filme o ajude a mostrar seu alcance como intérprete, nem todos os seus elementos funcionam como deveriam.

A trama adapta um romance (que não li) de Donald Ray Pollock, acompanhando múltiplos personagens ao longo de quase duas décadas em pequenas cidades no interior dos Estados Unidos e as histórias de violência experimentadas por cada um deles. Eventualmente acaba focando em Arvin (Tom Holland), um jovem órfão com propensão a um comportamento violento e como isso inevitavelmente será a sua perdição.

A narrativa é contada com muitas idas e vindas no tempo, inclusive com um narrador (o próprio Pollock) adiantando os destinos de certos personagens, contando como eles morrem já nos primeiros instantes que os vemos. Essa escolha não necessariamente contribui para o andamento da trama, já que faz tudo soar excessivamente fragmentado e bagunçado. O filme poderia contar tudo em ordem cronológica que não faria a menor diferença.

O principal problema, no entanto, é que ao mostrar essa ampla coleção de personagens brutos, sórdidos e violentos, o texto não faz qualquer esforço de tentar entender o que move essas pessoas, o que as faz ser assim. Desta maneira, tudo soa como uma exploração vazia da crueldade ocasionalmente inserindo alguns apontamentos sobre as hipocrisias dessa sociedade que se diz cristã e de bem, mas que se comporta de maneira sórdida.

Em um dado momento o pastor Roy (Harry Melling) mata a própria esposa porque crê que seria capaz de ressuscitá-la. A trama, no entanto, nunca constrói as bases dessa fé fervorosa de Roy (apenas mostra seu radicalismo enquanto pregador) que o faria crer tanto em sua capacidade de fazer milagres que estaria disposto a cometer uma atrocidade. Sem essa busca de entendimento, é apenas um ato de violência jogado na tela. O mesmo pode ser dito do serial killer fotógrafo interpretado por Jason Clarke, que nunca há um esforço de entender o fascínio dele por fotos de cadáveres ou de onde vem o sadismo que ele exibe com as vítimas.

Claro, o texto poderia ir na direção contrária e ao invés de tentar entender o que está por trás desses comportamentos poderia usar tudo isso como um comentário para a banalização e espetacularização da violência em nossa sociedade como fazem Assassinos por Natureza (1994) ou Violência Gratuita (1997), mas isso não acontece. A única exceção acaba sendo Arvin, já que ao mostrar a complicada relação do garoto com o pai bruto e fanaticamente devoto, o texto nos faz entender porque o jovem parece não conhecer nenhuma outra linguagem além da violência. O personagem, porém, é apenas uma pequena peça em um quebra-cabeça bem maior no qual as coisas nem sempre se encaixam para formar um todo coeso ou interessante.

É uma pena, pois Holland é eficiente ao construir esse personagem que não é exatamente um mau sujeito, mas que foi tão endurecido pelo tratamento dado pelo pai e pelas tragédias da sua vida que parece não saber responder ao mundo de outra forma que não com brutalidade, o que coloca Arvin em um caminho sem volta. Além de Holland há de se destacar também o trabalho de Robert Pattinson como um pastor hipócrita que abusa da irmã de criação de Arvin e depois acusa a garota de ser mentirosa. Pattinson é ótimo em construir o senso exagerado de superioridade moral do pregador e suas ilações hiperbólicas para a congregação.

Na verdade, o elenco todo é composto por nomes competentes, a questão é que a maioria desses personagens mal tem tempo para dizer a que veio, sendo apresentados e eliminados sem que se tenha algo consistente sobre eles, dando ao filme um caráter episódico, fragmentado e raso. Talvez o romance de Pollock consiga trabalhar melhor essas múltiplas histórias e nesse caso teria sido melhor que essa adaptação fosse uma minissérie. Do jeito que está O Diabo de Cada Dia conta com boas interpretações, mas o todo acaba sendo menor que a soma das partes, resultando em um filme inchado, fragmentado e que explora de maneira superficial o universo sórdido que cria.

5 /10
Avaliação
Leitores (0 votos) 0
O que as pessoas dizem sobre o filme... Deixe sua avaliação
Sort by:

Be the first to leave a review.

User Avatar
Verified
{{{ review.rating_title }}}
{{{review.rating_comment | nl2br}}}

Show more
{{ pageNumber+1 }}
Deixe sua avaliação

Your browser does not support images upload. Please choose a modern one

Clique para comentar

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Leia mais

Música

No sábado, 15 de novembro, todos os caminhos irão levar para o público para a festa “É Sim Bahia”, que será realizada no Porto...

Música

O cantor Durval Lelys será a grande atração da edição deste sábado, dia 1º de novembro, da festa “Pé na Areia Mali”, que será...

Gente

No último sábado, 25 de outubro, o Vidya Studio recebeu um evento especial para celebrar a inauguração do Núcleo Ohana, um núcleo de estética...

Gastronomia

Um dos mais importante eventos gastronômicos da Bahia celebra a “Gastronomia Km 0” e impulsiona economia local de Porto Seguro

Beleza

Com 14 produtos entre balms e lapiseiras, a marca criada pela influenciadora celebra o movimento da beleza prática e sensorial.

Gastronomia

O Estacionamento E do Shopping da Bahia (SDB) será palco do Brasil Brew Festival entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro....

Negócios

Nos dias 30 e 31 de outubro, a Fórum do Comércio 2025 reúne empreendedores, líderes do comércio e especialistas em inovação na Casa do...

Bahia

Aula de MuvYoga integra a programação do evento em Lauro de Freitas e propõe uma manhã de movimento, respiração e reconexão com a natureza