Durante o isolamento social pelo COVID-19, em resposta à ameaça de ter a sua atuação artística interrompida pela crise econômica, Andréa Elia libertou a sua pulsão criativa produzindo vídeos autorias intitulados “A 40tona na 40tena”. Esta nova “persona” libertária respondeu aos temores do confinamento com provocações dotadas de um humor reflexivo, em meio as dores de um cenário pandêmico.
A prontidão quase que instintiva da atriz em superar o medo, usando como saída emergencial a expressão do humor catártico do teatro encontrou inspiração no mito japonês da Deusa Uzume. Uzume consegue resgatar a sua irmã Amaterasu, Deusa do Sol, que encontrava-se triste e ferida, escondida em uma caverna. Após sucessivas tentativas dos deuses de tirá-la de lá, Uzume realiza uma dança ousada e irreverente, expondo os seus seios e genitália.
Os deuses reunidos na frente da caverna gargalham e a irmã de Uzume curiosa sai e vê sua imagem refletida num espelho estrategicamente colocado no local e ao ver-se, reconhece a sua majestade e o sol volta a brilhar. Uzume na cultura representa a face do riso, a alegria que liberta e traz calor à toda humanidade.
A atriz ao validar seu ato criativo no cenário pandêmico se deslocando de sua caverna – confinamento físico, para ousar-se em uma “dança criativa” nas redes sociais reafirma o papel da arte como recurso curativo, trazendo o calor da alegria em dias sombrios.