Diante da continuidade dos aprendizados via ambientes virtuais por causa da pandemia de coronavírus (COVID-19), pais e alunos relatam a defasagem do ensino na web.
Esse é o caso da fisioterapeuta e mãe de trigêmeos, Priscila Barreto. Segundo a matriarca, os filhos que frequentam a rede privada de ensino tiveram a carga horária de aulas reduzida, apresentaram dificuldades na relação “professor-aluno” devido à média de 70 à 80 estudantes por turma, os conteúdos exibidos eram preponderantemente expositivos e falta aparato tecnológico para os três filhos acessarem as aulas nos horários estabelecidos.
“Eu acho que o ano letivo está comprometido. É cedo para pensar em repetir ano por ser uma complicação ainda maior, mas se até o início de julho a situação não normalizar, as matérias terão pouco impacto nas crianças e isso irá prejudicá-las a longo prazo. Minha preocupação é que estudantes e escolas façam aquele acordo mútuo que sabemos que acontece: fingimos que ensinamos e vocês fingem que aprendem”, relata a mãe.
De colégios estaduais a instituições privadas de ensino superior, a pandemia de coronavírus fez ambientes educativos migrarem do presencial para o virtual. Apesar dos esforços institucionais em continuar a “normalidade” dos estudos, a diretora da Aruna Marketing, Priscyla Caldas, explica que as escolas e professores ainda estão se adaptando ao segmento digital.
“Existe por parte das escolas, uma tentativa de adaptação dessa realidade. Logo no começo, quando todos foram pegos de surpresa, os professores de alunos mais novos tiveram dificuldades ao enviar as aulas, seja no quesito técnico dos vídeos (sonora, qualidade, plataforma) ou na maneira de conduzir o ensino sem estar presencialmente com os estudantes. Entretanto, uma melhora significativa tem sido vista com a experiência que estão tendo com o ensino digital”, explica.
Mesmo abarcando todas as matérias da grade e disponibilizando vídeos, resumos, aulas e exercícios, Priscyla explica que o mundo digital pode apresentar uma gama de eventos dispersivos, funcionalidade e estética precária das plataformas online — que contribuem para dispersão dos alunos — e principalmente, a exclusão digital para alguns estudantes.
Segundo últimas estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 4 e 10 lares na Bahia não possuem acesso à internet. Em escala global, aproximadamente 706 milhões de pessoas ainda não detém um serviço de internet doméstico, conforme dados levantados pela Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura (Unesco).
“Pensando além das dificuldades subjetivas, que com o tempo, experiência e flexibilidade ditarão um melhor ensino no ambiente virtual, precisamos nos preocupar, sobretudo, com a exclusão digital. O desafio hoje em dia é saber como levar educação em lares que não possuem computadores, internet ou aparato tecnológico suficiente para as crianças. A pandemia de coronavírus nos fez perceber o quanto o ensino digital pode ser exclusivo, evidenciando as marcas da desigualdade social no aprendizado e acesso tecnológico”, conclui.